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A mostrar mensagens de dezembro, 2023

DANI RODRIK POR UM DOWNGRADE DA GLOBALIZAÇÃO, OU A EMERGÊNCIA DO CAPITALISMO 3.0

  Dani Rodrik por um downgrade da globalização, ou a emergência do capitalismo 3.0 Prémio Princesa das Astúrias para as Ciências Sociais, em 2020, Dani Rodrik marca a década pelo “rigor na análise da dinâmica da globalização”, bem como por procurar contribuir para que o sistema económico “seja mais sensível às necessidades da sociedade” (como justificou o júri a escolha do galardoado). Tais predicados observam-se de modo vincado na sua obra “O paradoxo da globalização”, na qual expõe o trilema de uma época: mais democracia, mais auto-determinação nacional e maior integração dos mercados, em simultâneo, não será possível e implica escolhas decisivas a realizar. Não poucos observarão neste livro o captar, antecipado, de tensões sociais e escolhas disruptivas do ponto de vista político que se sucederam, nesta década, a nível mundial, talvez porque poucos tivessem tido a lucidez de perceber esta mesma (tripla) equação e de lhe oferecer uma resposta socialmente sustentável. 1 -Globaliz

RECORDAR A ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, COM JORGE MIRANDA

  Recordar a Assembleia Constituinte Deixando os tomos mais técnicos do ponto de vista jurídico, e mergulhando nas memórias da Constituinte - ainda que não expurgadas de tecnicidade - do Professor Jorge Miranda é possível aprender imenso sobre múltiplos aspectos histórico-políticos e ideológicos do nosso sistema partidário. Quando debates há, no interior dos partidos - e em anos mais recentes se veem, aliás, multiplicando - sobre a "linha justa" e fundadora (naqueles presente), conviria revisitar este livro/documento de um dos nossos mais reputados e respeitados constitucionalistas. 1 .Agora que se comemoram os 45 anos do início dos trabalhos da Assembleia Constituinte, não pode deixar de ser motivo de grande regozijo, para todos os que se interessam pelas questões constitucionais, políticas, de história portuguesa contemporânea, a revisitação das memórias de um grande Professor de Direito, Constitucionalista de referência, deputado na Constituinte, cidadão com reconhecida a

COMPLEXIDADE DA VIDA HUMANA, PRESENTE NAS SUAS METAMORFOSES (DE MARIA LUÍSA PEDROSO LIMA A ANTÓNIO DAMÁSIO)

  Complexidade da vida humana, presente nas suas metamorfoses O que dizemos quando dizemos “eu”? A questão demanda tanto uma resposta filosófica, quanto psicológica: poderíamos afirmar, com Maria Luísa Pedroso de Lima (em Nós e os outros. O poder dos laços sociais , FFMS, Lisboa, 2018, p.19), que as identidades pessoais (o “eu”) podem ser vistas como as  histórias que construímos e contamos acerca de nós e que definem quem somos para nós e para os outros . E são  histórias ,  porque  têm muito de ilusório, de inventado e de reconstruído  a posteriori (este “inventado”, “ilusório”, “reconstruído” não significa mentir deliberadamente; significa que as histórias por que passámos são interiormente interpretadas e configuradas de certo jeito, a que chamamos nosso; é o modo como vemos, como pensamos que as coisas foram; Kant distinguia, de resto, entre númeno – as coisas em si, a que não temos acesso – e fenómeno – as coisas como elas se apresentam para nós, como as percepcionamos . Nós

JOHN RAWLS E O ESTATUTO DA FILOSOFIA POLÍTICA NA POLIS

  John Rawls e o estatuto da filosofia política na polis Quando celebramos o centenário do nascimento de John Rawls , um dos filósofos políticos mais marcantes da última centúria, revisitamos, aqui, brevemente, um tópico de partida a que o autor se ateve, a saber, o estatuto e o papel da filosofia política na cidade (e seus debates e deliberações), em uma obra que até nós chegou apenas na última década, “Palestras sobre a história da filosofia política”.   As notas de introdução, de John Rawls, às suas “Palestras sobre a história da filosofia política” ( Instituto Piaget , 2013) – editadas por Samuel Freeman , assistente de Rawls na Primavera de 1983, que gravaria, de resto, algumas dessas lições dadas à estampa, originalmente, em língua inglesa, em 2007 – não são despiciendas, na medida em que visam oferecer a correcta interpretação do estatuto que, no entender do autor de “Uma Teoria da Justiça”, a filosofia política deve ter na cidade . A este respeito, Rawls principia com uma fo

A TURMA DE STEFAN ZWEIG

  A turma de Stefan Zweig Pode até ser uma turma a iluminar não apenas o liceu, como uma inteira cidade. Quando nos questionamos sobre o desaparecimento de grandes mestres do pensamento e o que fica depois deles, em nossa época, manter viva a memória do melhor a que o espírito humano, desde bem cedo, pode aspirar é um módico de resistência. Não estamos condenados à apatia e à mediocridade, a esquecer a anima , a perder o ânimo. Stefan Zweig, para os planos de desconfinamento e de resiliência.   De entre as várias publicações que, em anos recentes, a propósito do centenário da I Guerra Mundial foram para as livrarias portuguesas, O mundo de ontem , de Stefan Zweig, não pôde deixar de provocar um vivo e impressivo impacto em quem procura pensar a cidade e a sua ecologia, as ideias e ideais de vida, as crenças e os sentimentos, as convicções que nela imperam. Sempre de modo analógico, claro, com as devidas distâncias de escala e tempo, importa revisitar um mundo que ficou para trás.

"SILÊNCIO", DE DON DE LILLO

  Silêncio . Don de Lillo 1 .Uma imagem: uma sala de uma casa nova-iorquina. Um ecrã televisivo ligado, a centrar todas as atenções. Um homem sentado no sofá, vidrado na tela. Dia de final do Super Bowl . 2022. Bug tecnológico. Apagão geral. Elevadores, telemóveis, frigoríficos, metro, aviões, tablets , telefones fixos, autocarros, aquecimento central, fogão, luzes, portáteis, off . Tudo off . Max Stenner na poltrona, televisão imersa na escuridão absoluta, sala de estar da sua casa nova-iorquina. Stenner, mesmo sem imagens, relata o jogo, a final do Super Bowl . Uma torrente de palavras, incontrolável, escapa-se-lhe, violentamente, da boca. Ei-lo, na sala, televisão às escuras, nada funciona, a reproduzir os anúncios publicitários. Nele se detecta, impressivamente, “ um nível radiofónico incorporado no mais fundo do insconsciente ” (p.40), décadas de discurso tribal “ turvado pela natureza do jogo ”. Stenner, aparentemente, não aguenta o silêncio que emerge do apagão geral; ainda a

AS IDEIAS POLÍTICAS E SOCIAIS DE JESUS CRISTO, SEGUNDO FREITAS DO AMARAL

  AS IDEIAS POLÍTICAS E SOCIAIS DE JESUS CRISTO, SEGUNDO FREITAS DO AMARAL O político falecido em 2019 via na pregação de Cristo o fundamento da doutrina dos Direitos Humanos e atribuía-lhe, também, a ideia da separação entre o poder temporal e o poder espiritual . Se, no último tomo das suas memórias políticas, Diogo Freitas do Amaral apresentara um rigoroso exame do seu percurso à luz das linhas mestras da Doutrina Social da Igreja (com que quis confrontar-se), o último livro que viria a escrever é um opúsculo intitulado As Ideias Políticas e Sociais de Jesus Cristo , publicado pela Bertrand já após a sua morte a 3 de outubro de 2019. Para Freitas do Amaral, a afirmação de Jesus de Nazaré acerca do Juízo Final no Evangelho Segundo S. Mateus antecipa a expressão de S. Paulo , segundo a qual todo o poder vem de Deus, posição que significaria que os governantes seriam tributários daquele mesmo poder e que faria, pois, sentido obedecer-lhes - dada a fonte de que emanava o p