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A mostrar mensagens de março, 2023

E ASSIM VAI O MUNDO...

  E assim vai o mundo… Em Itália, na semana passada, o administrador de uma empresa estatal que fornece  software  a alguns dos mais importantes institutos públicos transalpinos, como a Segurança Social, teve de demitir-se na sequência do conhecimento público do  email , por aquele enviado, mal foi nomeado para tal chefia, aos demais membros do conselho de administração: nem mais, nem menos do que uma missiva na qual se citava, extensamente, um dos mais terríveis discursos de Mussolini, no qual este se gabava do assassínio de um político socialista, momento hoje considerado pelos historiadores como fulcral na instauração da ditadura naquele país. Ao mesmo tempo, soube-se que um vice-ministro italiano, numa despedida de solteiro, não encontrou melhor ideia do que vestir-se com farda nazi. Impressiona, de sobremaneira, como alguns decénios após ideologias e personalidades políticas que levaram a humanidade ao abismo se encontra um clima (axiológico-político) que leva a que haja pessoas c

FEIÇÕES DO MUNDO (OCIDENTAL), NA TARDE DO CRISTIANISMO (HALÍK)

  Feições do mundo (ocidental), na tarde do cristianismo 1.Se a cultura é o meio de busca de sentido, incluindo a Preocupação Suprema (ultimate concern), então ela pode ser considerada um locus theologicus, uma matéria de investigação teológica. É através da arte que damos com os grandes sonhos e, neles, os grandes anseios e aspirações humanas, não apenas de indivíduos, mas de gerações inteiras. Na medida em que a cultura é uma expressão da busca humana por sentido, então é nesse anseio, abertura e inquietação que Deus está presente; anonimamente, em expressões de abertura, desejo e esperança humana, onde não é reconhecido ou nomeado, Deus acontece (Tomás Halík, “A tarde do cristianismo”, Paulinas, 2022, pp.49-51). 2.Na vida de cada humano, no modo como cada um habita o mundo, não apenas na sua moralidade (quotidiana), mas na sua criatividade e imaginação, sentido estético ou de empatia, pode detetar-se uma fé implícita; desde logo, fé enquanto “primordial confiança ontológica” (emunah

A SOLIDÃO EM PORTUGAL (ANA MARGARIDA DE CARVALHO)

  No  reparo do dia  de hoje, a solidão em Portugal 1.De acordo com o  Censos  provisório de  2021 , há  1 027 924  portugueses a viverem sozinhos.  Nunca tantos portugueses viveram sós  (nem durante a I Guerra Mundial, nem a quando da emigração massiva dos anos 60/70, nem, tão pouco, enquanto durou, nessas mesmas décadas, a guerra colonial). Em  1991 , eram, face ao que se verifica atualmente, menos de metade ( 435 864 ), e em  2011  tinha-se já ultrapassado a marca das  800 mil pessoas  nesta condição. Metade da população que vive só no nosso país é composta por idosos - e, de entre estes, uma maioria feminina. Com cerca de 10% da população a residir só, ainda assim, Portugal encontra-se abaixo dos 15% que constituem a média europeia. No mais recente  Retrato  (“Viver só. Portugueses esmagadoramente sós”, 2023), da  Fundação Francisco Manuel dos Santos , da autoria da premiada escritora  Ana Margarida de Carvalho , cinco factores são elencados como relevando e concorrendo, particular

POSSIBILIDADE(S) DE TEODICEIA(S) (?)

                                            Possibilidade(s) de teodiceia(s)?                                                                 1-De entre as questões últimas que nos podemos colocar, o problema do mal figura, certamente, entre as mais espinhosas (Georg Buchner escreveu, inclusive, em A morte de Danton , que “o mal é a rocha do ateísmo”). 2-O filósofo Epicuro, que viveu nos sécs. IV e III a.C., formulou o dilema que, para muitos, se tornou perturbante ou insolúvel: “se Deus é bom e omnipotente, como permite o mal? Ou Deus é bom, e não pode tirar o mal, e então não é omnipotente. Ou, então, pode e não quer, e não é bom. Ou pode, e quer – e isto é o mais seguro –, e então de onde vem o mal real e porque não o elimina?”. 3-Alargando a questão - e mesmo que a noção de Deus, de Epicuro, não fosse a de um Deus pessoal (à maneira cristã) -, podemos dizer que três são as características que, classicamente, se atribuem a Deus: a) Bondade; b) Omnipotência; c) compreensibilidade/i