INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO (PEDRO FREITAS)
INVESTIGAÇÃO
EM EDUCAÇÃO
- O Coleman Report, relatório pedido pelo Congresso norte-americano ao
sociólogo James Coleman, publicado em 1966 mostrou que “a grande maioria das desigualdades [de resultados escolares] dos alunos
se deve a diferenças nas condições familiares, e apenas uma pequena parte, às
diferenças entre os recursos das escolas” (p.25);
- Sendo a família “o” factor
(determinante) ao nível dos resultados dos alunos – “uma das variáveis que aparece recorrentemente neste tipo de estudos e
que costuma ter um grande poder explicativo dos resultados é a quantidade de
livros existentes em casa, uma vez que este aspecto é um bom indicador e uma
boa aproximação aos hábitos culturais praticados pela família” (p.27) -,
sublinhe-se que para os resultados de um concreto aluno importa a sua família, mas também a família dos colegas da escola (“a família do aluno, mas também dos colegas
da escola onde estuda e do bairro onde reside têm um papel determinante no
progresso do aluno”, p.29);
- Esta centralidade da
família como elemento primordial na explicação dos resultados académicos dos
alunos (e, por consequência, do seu futuro profissional/pessoal) – no que nos
resultados dos alunos se consegue explicar [o que corresponde, segundo Pedro Freitas, a 83% dos mesmos] -, implica, por
um lado, reconhecer que “fica muito clara a limitação das intervenções da
política no domínio da escola. Por muito que esta [a escola] seja o espaço
natural de aprendizagens e onde os governos desejam aplicar as políticas
inerentes ao sistema educativo, a capacidade que a escola tem de influenciar os
resultados escolares” conhece os limites (de determinadas realidades
familiares); por outro, isso não
diminui, bem ao invés, a exigência que se coloca, neste âmbito, às políticas
públicas: desde logo, elas devem ir ao “encontro das famílias” e tentar quebrar
“a desigualdade antes de os alunos entrarem na escola” (p.29);
- Uma vasta rede de pré-escolar e
de creches (0-5 anos) é uma condição
necessária, mas só a qualidade pedagógica presente na mesma será suficiente no empoderamento cognitivo e não cognitivo
dos alunos. O Nobel da Economia James Heckman mostrou que o retorno do investimento em educação, sobre os resultados escolares ou sobre os
salários que os alunos mais tarde receberão, é tanto maior quanto mais cedo for
feito esse investimento. O
investimento em educação na infância tem “fortes impactos tanto na formação das
dimensões cognitivas, como também nas
não cognitivas, condicionando os
resultados durante todo o percurso educativo. Assim, quanto melhor for a
educação pré-escolar, melhores serão os resultados em anos posteriores,
nomeadamente na educação básica e secundária, sendo o pré-escolar e a creche a
catapulta que pode colocar os alunos num percurso de sucesso para os anos
seguintes” (p.31);
- Ora, neste contexto é com
preocupação que se lê no estudo do Conselho Nacional de Educação, de 2018,
que “em Portugal, os estudos sobre a qualidade dos serviços de educação e
cuidados para as crianças dos 0 aos 3 anos apontam para níveis mínimos ou
inadequados de qualidade na generalidade das instituições”, sendo, pois, de
concluir que “há ainda um caminho a percorrer na melhoria da resposta
pedagógica para as crianças entre os 0 e os 3 anos” (p.35). Programas de
alargamento do pré-escolar com
qualidade apresentam “evidência robusta”
de impactos positivos sobre “os
resultados escolares ou o QI”. Por exemplo, nos EUA, o “Perry Preschool
Project” referencia “um aumento de 56%
na probabilidade de terminar o Secundário” por parte de uma rapariga que o
tenha frequentado e um aumento de 29% na probabilidade de estar empregado aos
40 anos, por banda de um rapaz que nele haja se encontrado presente;
- Ainda no domínio de
políticas dirigidas às famílias visando a melhoria dos resultados escolares – e
de futuro profissional – dos seus educandos: nos EUA, “uma experiência que moveu famílias para bairros menos pobres
mostrou que as crianças com menos de 13 anos, que fizeram essa mudança,
tiveram, mais tarde, quando chegadas ao mercado de trabalho, um aumento do
salário médio em 31%. Também nos EUA, um muito recente estudo usou dados de
mais de 72 milhões de utilizadores do Facebook
para mostrar como o contacto durante a infância entre crianças de meios
socioeconómicos diversos pode, mais tarde, resultar num aumento de rendimentos”.
Neste sentido, Pedro Freitas
sinaliza que na alocação dos alunos às respectivas escolas, “a morada é um dos mais decisivos critérios”,
marco que, a seu ver, deve ser “relaxado” (tendo em vista os objectivos, e os
meios para os alcançar, vindos de mencionar);
- Política de proximidade às
famílias, com vista ao empoderamento
escolar/profissional/pessoal dos seus filhos passa, igualmente, em países como
China, Jamaica ou Irlanda por visitas
parentais, de profissionais credenciados e com treino prévio para o efeito (por
exemplo, aos bairros desfavorecidos de Dublin), em que os pais recebiam “brinquedos
e livros, incentivos à participação em eventos na comunidade sobre saúde
pública e parental, conselhos sobre práticas de parentalidade, nomeadamente
alimentação e desenvolvimento cognitivo das crianças, ou ainda ajuda sobre como
procurar os serviços de apoio social;
- Múltiplos estudos sobre resultados dos alunos em turmas mais pequenas
[do que era a norma nos respetivos países] mostraram-se desiguais, sendo certo
que a diminuição do número de alunos por turma produziu “efeitos mais fortes em
turmas de alunos com contextos socioeconómicos mais desfavorecidos” (p.42).
Entre os argumentos mais fortes a favor
da existência de turmas com menos alunos, um apoio mais individualizado, um
acompanhamento personalizado; entre as dimensões arguidas em sentido oposto,
uma diminuição da heterogeneidade das turmas, a logística necessária (os
espaços que cada escola tem que dispor para o efeito), o impacto orçamental, a
necessidade mais professores (num panorama de rarefacção destes);
- Um elemento interessante,
de ordem cultural, quanto ao número de alunos por turma, oriundo da política
seguida por Israel: “a alocação dos alunos às turmas naquele
país segue um princípio talmúdico do século VI sobre o número ideal de alunos
por professor para o estudo do texto sagrado. No século XII, o rabino Maimônides
materializou este princípio de tal forma que um grupo com menos de 25 alunos
devia ser alocado a um único professor; entre 25 e 40 alunos, o professor
deveria ter uma ajuda em sala, e para grupos com mais de 40 alunos, estes
deveriam ser divididos em dois grupos mais pequenos. Esta regra foi adoptada no
sistema de ensino israelita, existindo assim a possibilidade de comparar o
impacto nas aprendizagens entre alunos que integram grupos que ficaram
ligeiramente abaixo dos 40 alunos e que se constituíram como uma turma única,
ou alunos que, por estarem num grupo de mais de 40 alunos, foram divididos em
duas turmas” (p.41);
- O Ensino Profissional, no
nosso país, está muito ligado e dependente dos Fundos Europeus, o que coloca questões de sustentabilidade a longo prazo: “num cenário de extensão da
escolaridade obrigatória até aos 18 anos, em que perto de 40% dos jovens seguem
estas vias no ensino secundário, devemos questionar-nos se esta forma de
financiamento é sustentável a longo prazo, sobretudo se Portugal perder o
acesso a parte destes fundos europeus em futuros quadros comunitários de apoio”
(p.48);
- Ter continuidade de um professor, ter um professor durante longos anos
é bom para o(s) aluno(s)? Que peso tem o professor no resultado dos alunos?
“Para os alunos na iminência de
atingirem a positiva, o professor no ano do exame/prova nacional é aquele com
mais peso nos resultados dos alunos. Por sua vez, caso consideremos os alunos
que estão na margem de ter uma nota mais alta, então a contribuição dos
professores ao longo do ciclo é igualmente importante” (p.53). Um estudo
muito recente no estado norte-americano do Tennessee concluiu que a “continuidade pedagógica tinha uma fraca
repercussão sobre as aprendizagens, mas, por sua vez, uma maior influência
sobre a melhoria dos comportamentos dos alunos em sala de aula”. O escalão (antiguidade) em que o professor se encontra não explica o impacto
nas aprendizagens (p.54);
- Ao nível das pedagogias,
destaca-se que na disciplina de
Matemática “a existência de momentos para a prática individual dos conteúdos
lecionados por parte dos alunos mostrou-se correlacionada com níveis maiores de
valor acrescentado dos professores. Já na disciplina de Inglês, a possibilidade
de os alunos trabalharem em grupo sobre os temas abordados revelou-se uma das
técnicas com maior poder explicativo do impacto do professor nas aprendizagens”
(p.55);
- Haverá uma queda do número de alunos na ordem dos 16% até ao ano letivo
2030/2031, sendo esta mais acentuada no 3º ciclo e secundário, onde rondará os
22% (p.59);
- No mundo, em média, por cada ano (a mais) de Educação, o salário
aumenta 9% (foi assim, pelo menos, entre 1970-2014). Esse aumento, contudo, é
maior nos países mais pobres do que nos países mais ricos. Relativamente a
Portugal, “as últimas estimativas apontam para que, em média, por cada ano a
mais de escolaridade os salários aumentem cerca de 7%, mas com variações
relevantes entre diferentes grupos. Para trabalhadores nascidos na década de
30, um ano adicional na escola equivale a um aumento de salário de cerca de 9%,
enquanto para a geração nascida nos anos 90 este prémio salarial é apenas de
4,8%” (p.16);
- No nosso país, até ao ano 2000, ao aumento (sucessivo) de escolaridade
correspondia um aumento (sucessivo) de produtividade. Desde então que assim não
é, convocando a controvertida e muito debatida questão de saber se mais anos de
escolaridade correspondem a um maior nível de aprendizagem e a uma maior
produtividade (p.17).
- Portugal é, ainda, o país da UE com uma maior percentagem da população adulta sem o ensino secundário, cerca de 41% (2021). Mesmo a geração nascida nos anos 90 não atinge ainda os 12 anos médios de escolaridade.
- Há correlação demonstrada em países como México, Suécia e EUA entre resultados em exames nacionais, mesmo em fases precoces como o 6ºano, com o aproveitamento escolar e salário a auferir quando ingressarem no mercado de trabalho.
- Em Portugal, até ao ano 2000, escolaridade e produtividade apresentavam uma tendência positiva e caminhavam a par (a um aumento de educação correspondia um aumento de produtividade). Desde então, tal não sucede. Mais anos de escola correspondem a mais aprendizagem?
- OCDE promove os testes PISA. Em 2022, com 85 países.
- O TIMMS E O PIRLS SÃO EXAMES QUE ESTÃO MAIS PRÓXIMOS DOS CURRÍCULOS.
- A metodologia «Big 5» é uma das mais conhecidas que aferem estas dimensões não cognitivas, abarcando dimensões como a Abertura à Experiência, a Extroversão, o Neuroticismo, a Simpatia e a Conscienciosidade. Portugal é, ainda, o país da UE com uma maior percentagem da população adulta sem o ensino secundário, cerca de 41% (2021). Mesmo a geração nascida nos anos 90 não atinge ainda os 12 anos médios de escolaridade.
- Há correlação demonstrada em países como México, Suécia e EUA entre resultados em exames nacionais, mesmo em fases precoces como o 6ºano, com o aproveitamento escolar e salário a auferir quando ingressarem no mercado de trabalho.
- Em Portugal, até ao ano 2000, escolaridade e produtividade apresentavam uma tendência positiva e caminhavam a par (a um aumento de educação correspondia um aumento de produtividade). Desde então, tal não sucede. Mais anos de escola correspondem a mais aprendizagem?
- OCDE promove os testes PISA. Em 2022, com 85 países.
- O TIMMS E O PIRLS SÃO EXAMES QUE ESTÃO MAIS PRÓXIMOS DOS CURRÍCULOS.
- A metodologia «Big 5» é uma das mais conhecidas que aferem estas dimensões não cognitivas, abarcando dimensões como a Abertura à Experiência, a Extroversão, o Neuroticismo, a Simpatia e a Conscienciosidade. Aspectos de personalidade que podem ser influenciáveis pela Escola.
Métrica grit: vontade e perseverança para atingir objectivos.
[a partir de Pedro Freitas, assistente universitário e doutorando na Nova School of Business and Economics, “Economia da Educação. Um olhar sobre o sistema de ensino português”, FFMS, 2023]
Comentários
Enviar um comentário