'A DERROTA DO OCIDENTE', SEGUNDO EMMANUEL TODD
1.Temos observado como a procura de explicações para o voto do antigo “operariado” em partidos populistas de direita tem dado origem a uma vasta literatura (por exemplo, entre 1980 e 2017 foram dedicados ao estudo da Frente Nacional [Reunião Nacional] 210 livros). Em A derrota do Ocidente (Principia, 2025), Emmanuel Todd chega à conclusão de que, a Ocidente, a última fase da globalização transformou o antigo “proletariado explorado” em “plebe exploradora” - dos proletários da China, Bangladeche, Magrebe. Há, pois, uma mudança sociológica a preceder e impender sobre uma mudança eleitoral – note-se, quanto ao caso português, nas últimas décadas, a diminuição do sector primário e industrial e o crescimento do sector terciário e como tal influiu na perda eleitoral do PCP: “tanto os trabalhadores industriais, principalmente da periferia de Lisboa, como os trabalhadores agrícolas dependentes (assalariados) constituíam a principal base de apoio do partido. Contudo, tendo em conta as mudanças na estrutura capitalista portuguesa ao longo das últimas décadas (p.ex., o crescimento do sector terciário, acompanhado pela redução do sector primário e industrial), torna-se essencial determinar até que ponto o partido tem conseguido manter o apoio eleitoral da classe trabalhadora (…) Enquanto o eleitorado sindicalizado, os trabalhadores industriais e agrícolas e os indivíduos com ensino básico constituem uma parte importante do eleitorado comunista atualmente, a relevância em termos proporcionais destes grupos tem vindo a diminuir na sociedade portuguesa” (Nelson Santos e Sofia Serra Silva, "O eleitorado do partido comunista português: o que nos dizem os inquéritos?", in Marina Costa Lobo e Ana Espírito-Santo, O eleitorado português no século XXI, Tinta da China, 2024, p.310). Assim, os que resistiram ao fecho das fábricas no Ocidente – quer dizer, os que não se entregaram ao álcool, aos opioides e/ou ao suicídio em função do fim da sua “utilidade social” (consequências mais extremas, aquelas, sentidas, particularmente, nos EUA) – vota(r)am, “naturalmente”, à direita. Não por acaso, Michael Sandel tem insistido na necessidade de se colocar aos cidadãos (ocidentais) a possibilidade de a comunidade se deparar com (preferir) produtos mais caros, mas por eles elaborados – com a potencial realização pessoal/cidadã de que aí advirá – em detrimento de produtos mais baratos, a que corresponde a externalização laboral e a anomia de quem se vê destituído de um estatuto e de uma auto-estima (quando não um sentido fundamental na existência, para muitos adstrito ao trabalho/emprego; e, em dadas culturas, especialmente a um trabalho/emprego manual). “Falta explicar por que razão a maioria destas pessoas prefere votar em Trump (…) e porque é que os meios populares da Europa Ocidental também pendem hoje para o voto ‘populista, xenófobo, de extrema direita’ mesmo em zonas que não estão sob a ameaça de uma imigração maciça e descontrolada. Porque será que as populações que sobreviveram ao desmantelamento da sua indústria são hoje de direita? É muito simples. Os partidos de esquerda, fossem sociais-democratas ou comunistas, tinham como base de apoio as classes operárias exploradas; pelo contrário, os partidos populistas têm como base de apoio plebes cujo nível de vida é, em grande medida, uma consequência da exploração da mão de obra proletária na China, no Bangladeche, no Magrebe e noutros pontos do mundo. (…). Os eleitores do Rassemblement National são (…) extratores de mais-valias à escala mundial; é, natural, pois, que sejam de direita (…). Se a deslocalização de numerosas atividades produtivas contribuiu para anemizar cada vez mais as nossas províncias e os subúrbios das nossas cidades, o comércio livre cumpriu as suas promessas: favoreceu o consumo à custa do produtor, transformou o produtor em consumidor e fez do cidadão produtor um plebeu parasita, ansioso, no fundo, por retomar o caminho e recuperar a disciplina da fábrica” (p.258). Claro que, como Todd reconhece, desde o intelectual ou licenciado precário aos eleitores do França Insubmissa todos, a Ocidente, beneficiam “do trabalho dos operários chineses e das crianças do Bangladeche”; todavia, o que ele procura explicar é, em particular, porque votos oriundos de antigos meios “operários” se concentram em partidos populistas de direita – em várias partes do mundo se verifica uma composição social do voto em partidos à esquerda diversa da de outrora; do mesmo modo, tanto pode observar-se que permanece uma voto “não natural” na esquerda, mal grado o “plebeísmo parasitário”, como questionar o lado lendário – como notou Didier Eribon de que o voto “operário” iria, necessária e decisivamente (em todas as geografias), para o espectro político mais à esquerda, mesmo há várias décadas (nomeadamente, em França). Longe da imagem idealizada que Todd atribui ao Ocidente – o contributo para a emancipação de milhões de chineses e de vários outros povos, ao fazer daqueles “a fábrica do mundo” -, o antropólogo, historiador e ensaísta questiona (-se) seriamente se a imagem do Ocidente noutras partes do mundo não fica afectada por “homens, mulheres e crianças labutarem a troco de salários irrisórios” (p.259) e, inclusive, se tal não contribui, em termos geopolíticos, para “tanta indiferença, fora do nosso querido Ocidente, ao sofrimento da Ucrânia”. Quando, assevera, o peso da religião ortodoxa na sociedade russa é, hoje, diminuto (a “religião ortodoxa deixou há muito de ser um factor de peso na sociedade russa”, p.269), ao contrário do que Putin, inflacionando-o, pretende fazer crer, o conservadorismo moral/cultural ou nos costumes pós-religioso é uma arma de soft power que ajuda a Rússia a aproximar-se de vários actores não ocidentais, incluindo aqueles de quem, tradicionalmente, se encontrava distante como é o caso do Irão (sendo isso manifesto nas questões de género e LGBT).
2.Se John Gray, em Os novos
leviatãs, entendia que não existe um (específico) “mundo russo”, já Emmanuel Todd entende que há, na Rússia, um “singular fundo antropológico”. Estudioso,
há décadas, da base familiar em que assentam diferentes comunidades, o pensador
francês retira do tipo de estrutura
familiar prevalecente numa dada comunidade (na sua história, tradição)
consequências para o domínio de regimes
políticos a que aquelas são propensas. Assim, a família russa patrilinear,
marcada pelo autoritarismo e o igualitarismo desaguou, sem
surpresa, no comunismo e em modelos não
liberais [a família ucraniana, por seu turno, apresentaria mais traços
de individualismo e a mulher alcançaria nela um estatuto mais elevado]. O tipo
familiar russo seria, pois, como se vem de dizer, “patrilinear e reúne o pai e os filhos casados em torno de uma
exploração agrícola, veiculava valores de autoridade (do pai sobre os filhos) e
de igualdade (dos irmãos entre si). Na Rússia, tal tipo familiar tinha a
particularidade de ser recente, só tendo chegado ao campesinato na passagem do
século XVI para o século XVII, aliás como o regime de servidão; o que significa
que, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, na China, ainda não tinha
baixado demasiado o estatuto das mulheres. Atualmente, o princípio patrilinear é simbolicamente perpetuado
na Rússia através do esquema dos três nomes: nome próprio, nome do pai, nome da
família: Vladimir Vladimirovich (filho
de Vladimir) Putin; Serguei
Viktorovitch (filho de Viktor) Lavrov (…) Dada esta naturalidade social do
comunismo na história russa, era pouco
verosímil que, após a sua derrocada, se instituísse entre Moscovo e Vladivostok
uma democracia liberal de alternância
de tipo ocidental; porque não era possível que os valores da autoridade e da
igualdade, que haviam sido vividos na família e depois no conjunto da vida
social na época soviética, se extinguissem num par de anos. A minha tese
parece-me razoável e realista; devo acrescentar que se trata de uma tese banal”
(p.46).
Se em Moscovo (como, aliás, por exemplo, em Teerão) há famílias nucleares – longe do sufoco da família comunitária -, se a classe média russa professa valores mais aproximados do liberalismo do que a média da população (daquele país), ainda assim, sobrevém toda a tradição patrilinear e o “liberalismo” nunca chega, para ilustrar, “às formas extremadas de feminismo” que Todd observa a Ocidente. Reforçando: “os regimes políticos liberais de Inglaterra, dos Estados Unidos e de França não nasceram do acaso, mas de um fundo familiar nuclear e individualista; pelo contrário, as estruturas da família rural chinesa caracterizam-se, tal como as da Rússia, pelo autoritarismo e o igualitarismo (…) Num sistema de parentalidade bilateral, os ascendentes e colaterais do pai, por um lado, e os da mãe, por outro, têm o mesmo peso na determinação do estatuto social dos filhos; a família, centrada no casal, é nuclear. Trata-se (…) do sistema antropológico que, durante a fase de alfabetização, levou à criação da democracia liberal, porque este tipo de família fazia que houvesse já na população um temperamento liberal. Na fase recente, que assistiu ao desenvolvimento do ensino superior, este sistema provocou o surgimento de um feminismo radical; as últimas fases desta revolução cultural consistiram na emancipação da homossexualidade, no desenvolvimento de uma apreciável bissexualidade feminina e, por fim, na ideologia transgénero (…) [A sociedade alemã não é individualista. Valores campesinos como disciplina, trabalho e ordem resultaram na eficácia industrial alemã; devido a tais valores terá sido a sociedade que melhor resistiu, no entender de Todd, a falência das ideologias. A mola das reformas Hartz foi a família souche; o ensaísta regista que o país já crescia antes das reformas liberais na economia de Schroeder] Os países do resto do mundo são, na sua maioria, diferentes; têm sistemas de parentalidade patrilineares que funcionam em virtude de uma norma oposta, em que o estatuto social fundamental dos filhos é definido apenas pelo pai. O princípio patrilinear coabita muitas vezes com um sistema familiar comunitário, pouco ou nada individualista (…) Uma mancha que vai da África Ocidental ao Norte da China, atravessando todo o mundo arábico-persa, e que inclui o conjunto da Rússia; o mundo ocidental, bilateral e nuclear, liberal e periférico, é bastante reduzido (…) Atualmente, encontramos famílias nucleares nos imóveis de Moscovo, nas megalópoles chinesas, no Cairo e em Teerão; mas isso não significa que os valores antigos, patrilineares, comunitários, refratários a um feminismo radical tenham desaparecido (…) As culturas patrilineares evoluem, e seria um erro grave pensar que ignoram a emancipação das mulheres; só que, nesses países, tal emancipação não assume a forma extremada de feminismo que é típica do mundo ocidental. Não pretendo ignorar a repressão continuada da liberdade das mulheres no Irão; mas também é verdade que, na actual república islâmica, as mulheres fazem mais estudos que os homens e têm, em média, menos de dois filhos” (pp.265-267).
Todavia, no derradeiro estádio que descreve, o juízo é mais de
ordem qualitativa – para Emmanuel Todd, em considerações evidentemente
controvertidas e susceptíveis de contraditório (p.ex., a referência ao
sentimento nacional devendo, no entanto, ter-se em conta o universalismo cristão),
o sucessivo recurso à cremação por parte das populações, a
rejeição do baptismo, de modo mais
direto, e a promoção do que chama “ideologia
de género”, a falta de compromisso
para com a comunidade (a arrogância meritocrática é um tópico nas décadas
mais recentes de Lasch e de Sandel aqui recuperado: “as classes com formação
superior consideram-se intrinsecamente superiores”, p.123) e o estado nação, a não
reprodução (muito baixas taxas de
natalidade), a pulsão de destruição,
o ataque à verdade, mandar, ou ameaçar mandar, refugiados
e/ou imigrantes para o Ruanda, elites
que sabem que medicamentos irão viciar em drogas e ainda assim os prescrevem ou
permitem que aqueles permaneçam no mercado, até o casamento entre pessoas do mesmo sexo
seriam elementos que consumariam a ideia de “religião zero”. E só num estádio
que crê de niilismo, de resto, se
adopta ou adere acriticamente, em larga escala, a um modelo de neoliberalismo – para Todd, a “destruição” que aquele promove não é
“criativa” (Schumpeter), mas pura niilidade
que se compraz no (puro) desfazer (económico, social, de pessoas e
localidades; ao dizer que “a sociedade
não existe”, pela voz de Thatcher, o neoliberalismo
nega, em absoluto, a realidade (p.173); e, prossegue Todd, desde Blair que
os trabalhistas não conseguem apresentar um modelo económico diverso do dos
conservadores; o regime, a Ocidente, na
perspectiva de Todd, assenta numa coligação entre a classe média superior e a classe média central, marginalizando os meios populares, sendo que a minoria mais bem protegida a Ocidente é a
dos oligarcas, sublinha, p.45) -, ou, ainda, a existência de elites que
consideram ter nenhuma obrigação para com os demais concidadãos, ao contrário
de outrora; o narcisismo larvar ocorre, então – e, neste ponto, Todd cita
expressamente Christopher Lasch).
O cristianismo foi a matriz religiosa
de todas as nossas crenças coletivas e o desvincular deste não emancipou o
indivíduo, mas desproveu-o do mais importante que possuía: “é então, e só
então, que surge aquilo que estamos a viver: o vazio religioso absoluto, com
indivíduos desprovidos de qualquer crença
colectiva de substituição (…) Este é o momento em que ocorre a
desintegração do Estado-nação e o
triunfo da globalização; isto
acontece em sociedades atomizadas, onde já ninguém consegue conceber sequer que
o Estado possa ter uma actuação eficaz. Digo
que os indivíduos foram desprovidos, e não que foram libertados, de crenças
coletivas, porque (…) longe de engrandecer os indivíduos, o vazio diminui-os”
(p.125). A hipótese que coloca, no fundo, a tese, mesmo, que Todd expende é
esta: o “desaparecimento do sentimento nacional, da ética do trabalho, da noção de moral social vinculativa e da capacidade de sacrifício pela coletividade”
derivam da erosão, maioritária a Ocidente, do vínculo religioso (pelo menos, nos
termos em que Todd o situa). As consequências da “fuga para a frente niilista”
são, pois, múltiplas e presentes nas mais variadas dimensões da vida das pessoas
e das comunidades (ocidentais, afastadas dos grandes relatos): “uma das grandes ilusões da década de 1960 –
entre a revolução sexual anglo-americana e o Maio de 68 francês – foi achar que o indivíduo se engrandeceria
quando se libertasse do coletivo (mea
culpa, mea maxima culpa). Ora, é
precisamente o contrário: o indivíduo só
pode engrandecer-se no seio de uma comunidade e através dela. Libertos em massa de crenças metafísicas,
fundadoras e derivadas, socialistas ou nacionalistas, começámos a fazer a experiência do vazio e encolhemos; tornámo-nos uma
multidão de anões miméticos (…) As crenças colectivas não são apenas ideias
que os indivíduos partilham e que lhes permitem agir em conjunto. As crenças
colectivas estruturam os indivíduos ao inculcar-lhes regras morais aprovadas
por outros, transformam-nos” (p.128). Várias vezes nos temos interrogado: porque desapareceu o superego (realidade muito manifesta numa desregrada vozearia
quotidiana e no absoluto despudor de alguns dos políticos com maiores
responsabilidades a nível mundial)? “Esta sociedade que opera dentro do
indivíduo é aquilo a que se chama, na psicanálise, o superego, um conceito que
tem, hoje em dia, má imprensa, dado que invoca uma instância antipática de
controlo, que reprime e impede o «desenvolvimento pessoal»; acontece que,
no espírito de Freud e de muitos
outros, o superego é também um ideal do ego, que permite ao indivíduo
elevar-se acima dos seus desejos imediatos a fim de ser melhor e mais que si
próprio. Antes do ideal do eu freudiano, dispúnhamos da «consciência»,
que implicava a existência dos outros; ouvir a voz da consciência e fazer exame
de consciência eram imperativos de origem cristã. (…) O estado religioso zero
traduz um vazio e, tendencialmente, uma deficiência do superego; é um estado
que define o nada, o vazio, mas que o define para um ser humano que continua a
existir e a experienciar a angústia da finitude humana. Assim sendo, este nada,
este vazio, acaba inevitavelmente por gerar alguma coisa, uma reação em todas
as direcções – algumas admiráveis, outras estúpidas, outras abjectas. O niilismo, que idolatra o nada, parece-me ser a mais banal. Ora, o niilismo
está omnipresente no Ocidente” (p.129). E “o motor da história que vivemos é a crise do Ocidente” (p.29). O “motor da Alemanha nazi e da América actual
é o vazio” (p.201).
A diminuição protestante, com as suas obrigações intrínsecas (entre as quais uma histórica centralidade da educação), terá levado à desconsideração pela engenharia – negligência no número de estudantes no ensino superior em engenharias, ou nas vocações deslocadas daí para outros ramos do saber – nos EUA – cuja húbris, enquanto potência hegemónica no pós-desmoronamento do império soviético, levou a uma guerra do Iraque que “há-de figurar como uma das grandes vergonhas do século XXI”: “nem chega a ser justificada, assinalando a entrada dos Estados Unidos numa nova fase da sua história, a da guerra de agressão pura e simples. Aquilo a que o Iraque foi sujeito há-de figurar nos livros de história (…) como uma das grandes vergonhas do século XXI. A nova componente niilista da América produz um tubo de ensaio na mão diante do Conselho de Segurança das Nações Unidas, afirma que o Iraque detém armas de destruição massiva. O niilismo nega a realidade e a verdade, é um culto à mentira; neste plano, a administração Bush filho inovou” (p.282) -, o que seria/será determinante para uma perda da guerra pela Ucrânia que Todd considera inelutável (a ausência de reposição de material bélico, pelos EUA, à Ucrânia (país que, desde 1991, pela demografia e emigração perdeu 11 milhões de habitantes), radicaria, em última instância, aí; a Rússia, pouco mais povoada do que o Japão, tem vantagem na maior aposta na engenharia face aos Estados Unidos). Na leitura do antropólogo, porém, também os cidadãos russos são pós-modernos e olham, também, para o sofrimento e felicidade de uma possível ida para a guerra (e não vão para ela com um mero sentimento de vontade e adesão nacionalista, portanto), pelo que, em vez das mais comuns leituras na imprensa ocidental de envio desconsiderado e em grande escala de pessoas-soldados para a frente da batalha, Putin, um niilista sem qualquer escrúpulo, teria, de modo calculista, em conta aquela leitura dos seus concidadãos e a lentidão de muitas batalhas dever-se-ia a um protelar o envio de muito mais pessoas-tropas para a frente de combate. Dada a situação russo também ao nível demográfico, Todd – que não subscreve a leitura de uma luta democracias vs autocracias no coração do conflito na Ucrânia, dada a deliquescência nas democracias a Ocidente, ao mesmo tempo que nota uma completa alienação do apoio no mundo dito muçulmano, pelo Ocidente, com as posições sobre Gaza, em plena crise ucraniana - estima que Putin pretende vencer a guerra num limite de 5 anos, altura em que a sua demografia não lhe permitirá sair-se tão bem como neste espaço temporal. Demografia que torna ambições imperiais uma quimera, uma impossibilidade, assegura (“a Rússia não dispõe de meios demográficos ou militares para se expandir para Ocidente”, p.135). O historiador que se diz “sem ideologia”, uma dúzia de anos antes da implosão da URSS previu o seu fim em A Queda Final. Ensaio sobre a Decomposição da Esfera Soviética (1976) nota, agora, em A derrota do Ocidente, que foi com base na “taxa de mortalidade infantil que avaliei o fracasso económico do sistema e previ[u] a sua falência” (p.43; para Todd, a taxa de mortalidade infantil reflete o grau de corrupção do país, entrelaçando estas duas realidades a que raramente vemos referência mútua), considerando, porém, hoje por hoje, que “o factor que desencadeou a queda [da URSS] não foi a paralisia económica do sistema, foi a emergência de uma classe média com formação superior” (p.43).
Pedro Miranda
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