COMOÇÃO E DESORDEM


1.E porquê a sedução ou queda em Tanatos (o antagonista de Eros, o impulso do amor), o impulso destrutivo, a pulsão de morte (na psique humana) que, tantas vezes, e, de novo, ao longo dos últimos anos, pareceu reemergir em força nas nossas sociedades (guerras ampliadas a territórios de que estavam desaparecidas há décadas, desconsolidação democrática, ‘democracias do ódio’…)? O antropólogo, pensador norte-americano Ernest Becker (1924-1974) propôs a seguinte explicação (estrutural) para aquele suceder: “o impulso destruidor seria uma reacção à comoção que a nossa mortalidade produz em nós. Humanos, reprimimos a nossa consciência da morte identificando-nos com uma ideia ou crença e, de imediato, matando por [em nome de] ela. Destruir outras pessoas [motivado] por uma abstracção cria nos destruidores a ilusão de fuga da mortalidade à qual enviam os destruídos. Segundo este paradoxo psicanalítico, o assassinato em massa viria a ser a expressão mais extrema dessa negação da morte” (John Gray, “Los nuevos leviatanes”, p.166).

2. Durante a guerra civil russa, a fome foi tal que, em certas regiões daquele país, houve mercados de carne humana, com diferentes preços consoante, respectivamente, os corpos se acabavam de matar, ou se já se encontravam cadáveres (há algum tempo).
No cerco nazi a Leninegrado (1941-1943), em que morreram mais de 1,5 milhões de pessoas, um poema guardado por Gennadi Gor (1907-1981), historiador de arte, que deixou um caderno encontrado pelo seu neto (após a morte do avô):
 
Comi a Rebeca, a menina que sempre ria [...]
Um corvo observava-me, mas foi em vão;
não soltei o braço de Rebeca.
 
3.Matar, sucessivamente, milhões em nome da nação, da igualdade, da liberdade, da pureza ou superioridade da raça [sempre com uma ideia de progresso que significava/representava expurgar, por exemplo, os ex-humanos ou os sub-humanos], colocar preço ao cadáver…Racional a medida que prevalece, a medida maior, no humano? Retiramo-lo, deveras, da leitura da História? O humano é, sobretudo, no dizer de Onésimo Teotónio de Almeida, na senda de David Hume, um animal emocional:
 
A razão, que no fundo é a aplicação da lógica na conversação sobre o articular-se das emoções ou dos valores, tem um papel bastante subsidiário. Ela liga ou procura coerentemente as nossas escolhas, opções, preferências, desejos e vontades. Os nossos valores últimos não pertencem ao domínio do racional. Simplesmente, são, existem, estão lá. A razão procura fazer sentido, coordená-los, evitar conflitos entre eles, permite prever a longo prazo o efeito de se optar por esta ou aquela escolha imediata, mas não se sobrepõe a eles. Quer dizer, o ser humano é, mais do que um animal racional, um animal emocional. A expressão «animal racional» surgiu dentro das categorias aristotélicas para nos distinguir dos animais que não possuem a capacidade de raciocinar, pelo menos ao nível que os humanos possuem. Todavia, isso não significa que essa diferença específica seja uma totalidade, isto é, que constitua a base de toda a actividade humana. Os seres humanos dispõem dessa possibilidade de articular mais ou menos coerentemente os seus valores e as suas opções.
Não estou a trazer nenhuma novidade. David Hume demonstrou isso cabalmente contra Platão. O mestre grego é que estava obcecado com a razão e o seu papel. Hume, contra essa tradição racionalista, demonstrou que os seres humanos se moviam acima de tudo por «paixões» e «sentimentos»” (Utopias em dói menor, pp.67-69).
 
4. Em 1933, com a subida dos nazis ao poder, os livros de Freud começaram a ser queimados. Então, Freud disse: "na Idade Média ter-me-iam queimado (a mim); na actualidade, chega-lhes deitar fogo aos meus livros". Freud morreria de cancro em 1939. Não podia, então, saber que 4 das suas irmãs terminariam assassinadas nos campos de concentração e extermínio nazis, em 1942-1943.
Quanto wishful thinking (político), quanta complacência - quando não objectiva cumplicidade - com os intolerantes (e seu jogo de destruição democrática), umas vezes genuína, em demasiadas ocasiões interessada, outra vez, hoje…
 
5.Verão de 1989: Francis Fukuyama escreve o célebre artigo sobre o "fim da história" - então, ainda sob a forma de interrogação - na Nacional Interest. Depois, em livro homónimo, o autor deixa cair o ponto de interrogação - e o “fim da história” fica articulado em modo de afirmação. Todavia, logo em outubro de 1989, John Gray, na National Review, comenta assim o artigo de Fukuyama: "O que estamos a presenciar na União Soviética actual não é o fim da história, mas antes o seu retomar (e conforme a umas linhas tradicionais, certamente). Todos os indícios disponíveis sugerem que, longe de avançar para uma era pós histórica e vazia, estamos a retroceder a uma época que é histórica no sentido clássico do termo. A nossa é uma era em que as ideologias políticas (tanto a liberal como a marxista) estão a perder rapidamente a sua capacidade de influência sobre os acontecimentos e na qual outras forças mais antigas e primigénias (nacionalistas e religiosas, fundamentalistas e, logo, talvez maltusianas) estão a competir entre si". Esta parte do comentário, vista da terceira década do século XXI, revela-se particularmente premonitória e sagaz.
"A presumível ordem liberal passou á história", escreve, agora, John Gray (p.60, “Los nuevos Leviatãs”). Por extenso: “a civilização liberal baseada na prática da tolerância passou à história” (p.13).
O mundo do futuro, e o futuro do mundo político, parecer-se-á com o do passado: “não há razões para esperar que uma forma de governo acabe por afastar todos os outros. No mundo, haverá monarquias e repúblicas, nações e impérios, tiranias e teocracias, assim como múltiplos regimes mistos e zonas sem Estado carentes de Governo. O mundo do futuro será como o do passado, com regimes díspares interagindo uns com os outros num contexto de anarquia global” (p.31).
 
6.A finalidade do Leviatã hobbesiano era/é proteger os seres humanos uns dos outros; já a finalidade dos modernos Leviatãs será, antes, procurar um sentido para a vida dos seus súbditos. Aliviar os humanos de todas as cargas, de todo o fardo da liberdade. Impor/inculcar formas únicas de experimentar a vida (Stuart Mill), sem negociação ou tolerância possíveis – tolerância que significa a aceitação de viver com quem possui convicções ou valores diferentes dos meus, e partindo de um pressuposto de imperfeição humana -, moralizando e perseguindo (eliminando?) quem não seguir o caminho justo (aqui, o paradoxo é o de, em certos temas que reclamam regulação pública, ser impossível, em sociedades plurais, existir concordância de pontos de vista, o que, podendo parecer levar, necessariamente, ao supérfluo de um diálogo que jamais se consumará em um perfeito casamento de perspectivas, demandar uma negociação contínua e uma legislação que acomode, imperfeitamente, a heterogeneidade de convicções).
 
7.A China estará, atualmente, a superar o Ocidente na Robótica, na computação quântica, na realidade virtual e nos sistemas de armazenamento (p.34). Gray nota que há vários intelectuais chineses melhor preparados acerca do pensamento ocidental (mais conhecedores dos principais pensadores ocidentais ao longo da história) do que muitos académicos do Ocidente. Mais: o “projecto de controlo total” (de/sobre a população chinesa) de Xi Jinping não é uma fabricação chinesa, mas ancora-se no panóptico de Jeremy Bentham: “a intelectualidade chinesa tem um domínio do pensamento ocidental superior ao de muitos dos seus homólogos universitários no Ocidente. O estudo dos clássicos ocidentais é fomentado muito ativamente nas universidades chinesas, onde, frequentemente, são ensinados inclusivamente nas suas próprias línguas originais. Também estudam a fundo os pensadores ocidentais modernos e contemporâneos (Hobbes e Leo Strauss, entre eles), ainda que [Carl] Schmitt seja, para muitos intelectuais chineses, quem mais tem a ensinar-lhes (…) O modelo do projecto de controlo total de Xi não é de fabrico chinês, mas britânico. Se em alguém se pode situar a origem de uma sociedade de vigilância é em Jeremy Bentham. O panóptico não era apenas uma prisão ideal desenhada para manter os detidos debaixo de observação a todo o momento. Também foi pensado para muitas outras instituições, como fábricas, albergues para pobres, escolas, hospitais, clínicas psiquiátricas: definitivamente, para toda a sociedade. Nas prisões, permitiria introduzir um processo de modificação da conduta, já que segregaria os internos em função do seu grau de obediência às normas: a uns, premiar-se-ia com mais comida e palha sobre a qual dormir nas suas celas, e a outros castigar-se-ia, dando-lhes rações mais escassas e amordaçando-os. Os presos viveriam debaixo do esplendor perpétuo de umas lâmpadas instaladas em pontos estratégicos em toda a estrutura correcional. A prisão ideal de Bentham parece-se com o Estado de Xi em vários sentidos. Na actualidade, há câmaras equipadas com tecnologia de reconhecimento facial que observam a população nos seus afazeres quotidianos. Desviar-se da conduta prescrita é punido na China por meio do seu sistema de crédito social. Uma das bases de dados geridas pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o Banco Popular da China e o sistema judicial reúne e avalia relatórios de comportamento e, de acordo com as suas conclusões, outorgam aos seus indivíduos uma pontuação creditícia. Uma pontuação negativa pode significar a proibição a viajar em comboios e aviões, por exemplo; uma pontuação positiva dá-lhes prioridade no acesso à saúde e habitação” (pp.56-57).
Quanto a Schmitt, tal pensador/jurista, muito vinculado ao nazismo, revelou-se de particular importância, nas lições tiradas pelos atuais líderes chineses e seus ‘intelectuais orgânicos’, com a obra “O conceito do político”, na qual sustentou que o direito é criado por decisões do soberano, enquanto a política é uma luta entre inimigos (uma espécie de guerra). Se para Hobbes a finalidade do Estado é a protecção dos indivíduos face à violência e à insegurança (uma visão essencialmente liberal), para Schmitt o Estado tem a missão de proteger um povo unificado. Ora, se Estado e povo são uma e a mesma coisa, “está perfeitamente justificado reprimir minorias como os tibetanos e os iugures em nome da protecção pública” (p.54). Schmitt, neste âmbito, é citado por Professores de Direito da Universidade de Pequim, como foi o caso, em 2020, de Chen Duanhong.
Aliás, e superando-se, largamente, aqui o caso chinês, a limpeza étnica converteu-se num elemento central da construção nacional na Europa depois da I Guerra Mundial.
Quanto à Rússia, ao contrário do que os seus promotores ocidentais gostariam de observar, no que à vida ética se refere, “é uma espécie de Ocidente ampliado. A desintegração das famílias, a adição às drogas, o suicídio e a anomia campeiam em níveis mais elevados do que na maioria dos países ocidentais. O Exército, os serviços de inteligência e a economia estão perpassados pela corrupção. A Rússia pode ser uma quase-teocracia, mas é, igualmente, uma cleptocracia em grande escala. A ideia – muito estendida na extrema-direita europeia e entre os guerreiros culturais conservadores norte-americanos – de que a Rússia é eticamente superior ao Ocidente é um decadente delírio febril” (pp.49-50). A mitologia sobre a situação russa é, inequivocamente, enorme em boa parte do Ocidente, como cremos que os seguintes exemplos corroborarão: “menos de metade dos habitantes do estado russo são ortodoxos; boa parte da população é formada por outras variantes do cristianismo ou fiéis do islão, do xamanismo, ou do budismo (a Federação Russa inclui a República de Kalmukia, onde a religião reconhecida como maioritária é uma variante tibetana desta última religião). E um grande número de cidadãos russos não professa fé religiosa alguma. A república da Tchetchénia, dirigida pelo senhor da guerra Ramzán Kadírov, funciona como um estado islâmico semiautónomo desde que Putin o nomeou presidente da mesma em 2007 (…) Não existe nenhum mundo russo” (p.50).
No domínio da guerra na Ucrânia, e da justificação que lhe foi procurada dar ao nível da liderança ortodoxa russa, e para lá da forte oposição no seio do cristianismo ortodoxo em várias comunidades não só na Ucrânia mas em outros países, uma “parte do clero ortodoxo russo mostrou a sua discordância face a Cirilo” (p.39).
Putin assentou, ao longo de anos, numa coligação de forças do crime organizado; o estado que Putin criou é, claramente, ocidental; instrumentalizou, seguindo uma linhagem da Tcheka desde a década de 20 do século passado, a religião (a Igreja ortodoxa viria a preencher o vazio que a saída do Partido Comunista do Governo deixou), incrustando-a, muito fortemente (utilização do clero, cujo importância de recrutamento ficou gravada numa diretiva do KGB de 1970; o Patriarca Alexéi II de Moscovo e de todas as Rússias, foi o primeiro primado pós-soviético da Igreja ortodoxa russa, predecessor do actual Cirilo, era um agente do KGB recrutado em 1958), nas forças armadas (impregnando-se o complexo industrial-militar russo de “ortodoxia cristã” [“o cristianismo ortodoxo nunca se empenhou em conciliar Atenas com Jerusalém (…) Não houve ali Reforma, nem Renascimento (…) Não é que o liberalismo tivesse morrido na Rússia: ele nunca chegou a nascer”, p.70), no sentido em que Exército, Armada e Força Aérea têm, cada uma, o seu santo padroeiro, os seus ícones enchem os muros dos quartéis e a hierarquia é abençoada pela hierarquia. Há ícones nas plataformas nucleares. As atividades clericais são dirigidas a fomentar o patriotismo, o moral e a reabilitação pessoal).
Sem nunca ter tido um longo período de liberdade ou consolidação do estado de direito, a Rússia possui uma sociedade de há muito habituada à tirania, e onde os episódios apocalípticos prosperam.
 
8.Para John Gray, existe, hodiernamente, um projecto hiperliberal nos Estados ocidentais que consiste em “emancipar as pessoas das identidades herdadas. A ideia é as pessoas serem livres para fazer-se a si mesmas” (p.70). Sucede que isto, até certo ponto corolário lógico do individualismo, deu origem, por outro prisma, a “um estado natureza artificial de luta entre identidades auto-definidas”. Sociedades minadas desde dentro.
Para o antigo professor de ciência política em Oxford e de pensamento europeu na London School of Economics, uma das funções (objectivas, senão, até, deliberadas) que os movimentos woke – cuja origem o académico entende situar-se na “decadência do liberalismo” - tiveram foi a de desviar as atenções do impacto destrutivo que o capitalismo, sob a predominante variante neoliberal das últimas quatro décadas, chega a ter na sociedade: “ao mesmo tempo que afaga os egos daqueles que protestam contra qualquer menosprezo à sua cultivadíssima auto-imagem, a política da identidade condena à desonra e ao esquecimento muitas pessoas cujas vidas são arrasadas por um sistema económico que as descarta (…) Á medida que o capitalismo concentra riqueza e poder em sectores cada vez mais reduzidos, os professores universitários, as figuras mediáticas, os advogados, os trabalhadores de organizações de beneficência, os activistas sociais e os diretores da ONG sofrem uma crescente competição, com a correspondente queda das suas remunerações e estatuto. A sociedade produziu um número de membros de elite muito maior do que aquela que é capaz de absorver. Ao mesmo tempo que cria uma classe marginalizada em aumento para a qual não tem função produtiva alguma, o capitalismo ocidental produz também uma lumpenintelligentsia supérflua do ponto de vista económico” (p.129). Na denúncia das consequências económicas do modelo económico-social seguido, o cientista político faz lembrar o Christopher Lasch de A rebelião das elites e a traição da democracia quando este último autor assinalava que à nobreza de sangue ainda restava um nobless oblige para com os mais frágeis, enquanto que à aristocracia meritocrática nada se segue de uma posição que imaginam – sem demasiada imaginação, convenhamos – um mero constructo de si mesmos: “As sociedades feudais outorgavam certos benefícios e vantagens às populações subordinadas, algo que as sociedades contemporâneas não proporcionam às suas. Os senhores prometiam protecção aos seus servos em troca da sua mão de obra. Os servos do século XXI, sem embargo, estão abandonados à sua sorte, quer dizer, à anarquia e à desesperança. O feudalismo apoiava-se numa série de mitos sobre a ordem divina nos quais os mais pobres tinham reservado um lugar. À infraclasse do século XXI não se oferece lugar algum em nenhum esquema geral. Como as ex-pessoas dos regimes comunistas do século XX, são espécimes humanas retrógradas que estão do lado errado da história” (Gray, p.151).  É neste quadro que Gray enxerta a batalha que observa em curso não apenas por identidades individuais escolhidas, mas também por posições na sociedade que afiança acompanhá-las (daquelas derivarem).
 
9.O liberalismo é uma nota de rodapé do cristianismo – “as quatro ideias definidoras do pensamento liberal são continuidades do monoteísmo cristão. A primazia do indivíduo é uma tradução laica da crença de que cada ser humano foi criado pela divindade; a crença igualitarista de que todos os seres humanos têm o mesmo estatuto moral reproduz, por sua vez, a ideia de que todos os seres humanos são iguais aos olhos de Deus. O universalismo liberal – a crença de que os atributos humanos genéricos são mais importantes do que as identidades culturais particulares – vêm a ser um reflexo da ideia de que o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. E a crença de que que as instituições humanas são sempre susceptíveis de melhoria é uma réplica da fé teísta na qual a história é um relato moral de pecado seguido de redenção” (p.135). A fé laica no progresso é uma espécie de (pseudo) solução para o problema do mal (“problema” o qual só emerge com o pressuposto de existência de um Deus benévolo e omnipotente). O Ocidente substituiu Deus, passando a cultuar a humanidade, mas ficou, ainda, com o ideal da creatio ex nihilo, a criação a partir do nada – agora, de identidades pessoais escolhidas (qual tabla rasa), imediatamente subsumidas em tribos que se digladiariam entre si.
Porém, os seres humanos nunca podem (auto)definir-se a cem por cento, porque para que a sua identidade seja mais do que uma fantasia privada, estes devem induzir os outros a aceitá-la. Ocupar instituições e, nelas, separar as pessoas por grupos e, com eles, identificar a vítima (estatuto preferencial do nosso tempo, registam Susan Neiman e John Gray), por vezes para maior glória individual de quem a sugere, gerando diferentes distribuições de poder – e sendo intolerante para quem não compreenda de igual forma o justo - é, contudo, grosseiro erro, regista Gray. Se não se aceitam formas negociadas de resolver diferendos em sociedades plurais, cumpre, nesta lógica de furor e puritanismo, eliminar, simplesmente, o adversário/inimigo (na esteira da lógica amigo/inimigo de Schmitt). À ideia de se suplantar a política pelo direito, sucedeu a corrupção do direito pela política – nota Gray, num sublinhado que Yascha Mounck havia já feito na última década: um mundo no qual concorrem democracias iliberais com um liberalismo não democrático. No específico caso norte-americano, a contrarrevolução deu-se na tomada do sistema judicial.
O futuro do liberalismo far-se-á melhor enquanto terapia contra o medo à obscuridade, na medida em que Gray também não advoga um integrismo – como já foi proposto e, em certo sentido praticado, em anos recentes - enquanto suporte social/nacional (a Ocidente).
 
Pedro Miranda




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