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A mostrar mensagens de outubro, 2023

«SEGUNDA NAVEGAÇÃO» NA ESCOLA (ANDRÉS TORRES QUEIRUGA, ARIEL VALDÉS)

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  «Segunda navegação» na escola 1 .Se as alcatifas sedosas, os assentos fartos, individuais e de boa madeira, o abrigo das estações, o conforto sucessivo deviam ser arrancados aos templos em favor e memória do caminho das pedras – a pedra nua como chão e fenda - que a fé, tomada a sério, não fácil e cheia de mesuras, representa ( José Tolentino de Mendonça , Pai nosso que estais na Terra ), a subida íngreme, a inclinação triatleta , a quota na cota de (exigido) estoicismo diário tomado à sinuosidade da cidade – Rua da Misericórdia atravessada ainda sem piso estofado em ascensão, passado o cabo da Rua Direita , até à Igreja de São Pedro ; a pique, superado, de seguida, o Colégio de São José ao Pioledo ; e   (ar, rarefeito, recuperado então) deste, à Escola de São Pedro - ativam e demandam a irrigação cardíaca, artéria maior é o suplemento de alma ( adimplemento ) que aqueles que caminham, na alvorada, passo apressado antes de tomarem os ofícios, as encomendas, as glórias e as do

O ELOGIO DO TEATRO (ALAN BADIOU, ORTEGA Y GASSET)

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  O elogio do Teatro   1 .Resultado do diálogo público entre o filósofo e dramaturgo Alain Badiou e o jornalista e dramaturgo Nicolas Truong durante a edição de 2012 do Festival de Avignon , “O elogio do Teatro” ( Empilhadora , 2023), acabado de publicar pelo Teatro Nacional de São João , afiança ao Teatro um papel (característica/capacidade/importância) de bússola : “ o Teatro serve para nos orientarmos. Quando descobrimos esta bússola, não mais a largamos ” (Badiou). O Teatro é uma instituição, estando próximo (da) do Ensino e, nessa medida, não se furta a procurar “ criar no sujeito uma nova convicção ”. Nuno Cardoso , Diretor do Teatro Nacional de São João , considera, por sua vez, que “ a escolha é a grande questão do nosso tempo ”, no sentido em que “até a Google escolhe”, no fundo, não raramente, “o restaurante por nós” – nomeadamente, com os dados que tem armazenados relativamente a cada utilizador e que nos inclinam ou incitam a um dado local (ou com os “top’s” que result

"CAROS FANÁTICOS", DE AMOS OZ

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  Caros fanáticos . Amos Oz 1 .Se há expressão generalizada, de um sentimento público, nos anos mais próximos (mas diríamos demasiados já), à escala mundial - na análise de Amos Oz (1939-2018), um dos mais reconhecidos e premiados escritores israelitas das últimas décadas, em “Caros Fanáticos” ( D. Quixote , 2018) - é a “ rejeição sem restrições ”, um repúdio (pelo(s) outro(s)) “ que cresce e se avoluma como o vómito das profundezas desta ou daquela miséria ” (p.19). Há, aqui, como que um reativamento feroz da “ essência perene da natureza humana ”, do “«gene mau» nela presente - o fanatismo. 2 .O fanatismo, anterior, pois, às grandes religiões, “ mais antigo do que todas as ideologias do mundo ”, pode ser descrito como envolvendo, por parte dos que nele se encontram absorvidos (em absoluto ; em termos relativos , sendo “essência perene do humano”, pode ser despoletado, e observa-se, no mais recôndito dos quotidianos, devendo cada um estar consciente das/alerta para as suas próprias l

SEM RELATIVISMOS

  Bombardeamentos em carpete de ruas inteiras que provocaram a morte de centenas de pessoas inocentes são tão inaceitáveis como o ataque do Hamas. Porque, de duas, uma: ou introduzimos valores universais na avaliação dos acontecimentos desta guerra, ou relativizamos .  Se relativizarmos, quem “compreende” a barbárie do Hamas em nome do direito da Palestina a ter um Estado tem de aceitar a “barbárie” de Israel em nome da defesa do Estado que tão arduamente construiu. Se formos intransigentes na defesa de valores, temos de condenar tanto o massacre do Hamas como um massacre de Israel .  Para lá chegar, vale a pena distinguir a natureza das partes em conflito (...) Para se concluir que há acções que se podem esperar do Hamas mas não de Israel. Por muito bárbaro que seja Israel, e tem-no sido, em Telavive ainda sobrevive uma réstia de democracia, de liberdades civis e de dissidências que lutam por valores; por muita razão de protesto que tenha o Hamas, em Gaza prevalece um regime totalitár

SISTEMA DE DÍVIDAS DE VIOLÊNCIA

  SISTEMA DE DÍVIDAS DE VIOLÊNCIA “Por vezes, em relação aos acontecimentos, em vez da proximidade que grita, podemos encontrar uma distância que tenta pensar. Gritar é necessário, claro, mas pensar também. Pensar é necessário, claro, mas gritar também. Não se trata de optar pelo grito ou pelo pensamento, mas de tentar que uma ação não faça esquecer a outra. 1.O ódio é a força que mantém o inimigo debaixo de olho, numa necessidade de proximidade, pelo menos psicológica, que só encontra paralelo no seu oposto, na afetividade. O ódio coloca os motores do corpo individual e do corpo de uma sociedade em funcionamento; ligado e pronto a acelerar; ou seja, a vingar-se. O ódio impede o sono. Provoca uma insónia infinita, individual e coletiva. Um humano, após sucessivas insónias, fica instável, agressivo, violento. Um povo, após sucessivas insónias, fica instável, agressivo, violento. Por vezes, a insónia dura dias, semanas, meses, outras vezes dura séculos. Há povos que não dormem bem há mui