O 1 DE NOVEMBRO DE 1755, SEGUNDO MARY DEL PRIORE E MARK MOLESKY

 
O 1 de Novembro de 1755 de Lisboa, segundo Mary del Priore
 
1.Quando bocejava, de imediato a pessoa se benzia, não tivesse o diabo entrado pela boca; nas Igrejas, em forma de penitência, era possível observar os indivíduos a esbofetearem-se (a si mesmos); nas procissões de Quaresma, açoitavam-se, aqueles, à guisa de imitação dos tormentos pelos quais Cristo passara [um pouco como vemos, hoje suceder, por exemplo, ainda, nas Filipinas]. Um dos hospitais de Lisboa, com uma ala para loucos, tratava os que padeciam de doenças do foro mental a chibatadas e exorcismos, porque se entendia que se encontravam possuídos pelo demónio. Assim, também, ainda, médicos ilustres portugueses aceitavam que licantropias ou paralisias eram causadas por Satã. A porosidade entre o aquém e o além permanentemente presente no século XVIII lusitano (“em Lisboa, o visível e o invisível imbricavam-se”, p.61), no qual é impossível não afirmar “o valor preponderante” da religião (p.155); o sentimento religioso era “franco”, “profundo”, tanto experienciado individual como coletivamente (o reino fundado pelo “milagre de Ourique”); com efeito, o catolicismo dava “identidade e legitimidade” ao tecido social português (p.162) e essa marca e “estrutura mental”, atravessando todas as condições sociais e estamentos, permanecerão, apesar de tudo, no pós-terramoto de 1 de Novembro de 1755 e no tempo seguinte ao do Marquês de Pombal. Aliás, no tremor de terra e, bem assim, na interpretação, na procura de compreensão, nas leituras e análises, na dilucidação da origem, das causas, do porquê do terramoto de Lisboa, lutou-se, em Portugal não apenas pela vida, mas, ainda, pelo sentido da vida (p.307).

2.Lisboa tinha, em vésperas do grande terramoto, cerca de 250 mil pessoas, um décimo dos habitantes do país (e quatro vezes mais do que o Porto). Era, então, a quinta cidade mais populosa da Europa, a seguir a Londres, Paris, Nápoles e Amesterdão (O abismo de fogo, p.70).  Ainda assim, o ciclo do ouro no Brasil levava, anualmente, 8 a 10 mil portugueses (a emigrarem). Entre 1700 e 1760, saíram, pois, de Portugal cerca de 500 mil nacionais (p.70). Na equação demográfica colocava-se, adicionalmente, os cerca de 500 mosteiros e o grande número, assim, de celibatários existentes na pátria portuguesa (10% dos cerca de 2 milhões de portugueses tinham feito votos canónicos: "Portugal era mais dependente  de padres do que qualquer país do mundo, com excepção do Tibete", segundo um estudioso; D. João V quis converter Lisboa na Nova Roma, Mark Molesky, O abismo de fogo, p.65).
Na descrição de Mary del Priore, historiadora, professora em diversas universidades brasileiras, multipremiada, em “O mal sobre a terra” (Objetiva, 2020), a capital do reino apresentava, em meados do século XVIII, uma grande sujidade – o permanente “água vai” que permeava as ruas lisboetas, a falta de água potável (o “povo não se lavava”), a ausência de remuneração para quem efectuasse as limpezas ou regulamentos que obrigassem os cidadãos a mantê-las limpas…-, escassa iluminação (propulsora de grande número de acidentes, assaltos, roubos, mortos, violência generalizada), poucos motivos/eventos de elevação (intelectual) ou divertimento/entretenimento para quem quisesse e pudesse aproveitar, diversamente do que sucedia em outras grandes metrópoles europeias (sem Academia de debates, míngua operática, por exemplo). Depois de quatro décadas em que a família real não se poupara a despesas para atrair "os melhores cantores, dançarinos e compositores da Europa", em 1740, D. João V sofre a primeira de várias apoplexias e, a partir de então, proíbe todos os bailados e representações teatrais. Procurando compensar este interregno deixado, quase em exclusivo, a procissões melancólicas, o filho sucessor, D. José manda construir a Real Casa da Ópera, ficando esta pronta na Primavera de 1755 - e vindo a causar, de imediato, grande sensação.
O povo tinha um aspecto pálido, magro, doentio, miserável (p.72); um grande número de desempregados e mendigos pululava pelas ruas (10% dos habitantes de Lisboa eram sem-abrigo, Mark Molesky, p.76), solicitando esmola ao transeunte mais desafogado (e, em a não obtendo, este último receberia o respectivo insulto pela ausência de generosidade). Milhares de cães vadios andavam à solta pelas ruas. A venda de sardinha assada e de outros peixes prontos a grelhar, o cúmulo de tabernas sem fim eram tentativas que aos lisboetas se ofereciam de ganharem a vida. Anos de atraso de pagamentos a soldados, pela Coroa, levava à deserção de vários destes. A Manufactura esmagava a produção artesanal. A situação da Justiça, com os magistrados pouco frequentes aos parcos cursos que lhe eram facultados, uma grande desorganização judiciária e disciplinar, pouco elogiável (“a incompetência da justiça não era segredo para ninguém”, p.55). Dos réus julgados, 48% eram soltos e provavelmente reincidiam (p.45); todos os dias, brutalidade campeando (e polícia profissional em Lisboa só em 1760, como indica Molesky, p.78) eram recolhidos corpos de indivíduos mortos à facada ou que haviam levado com pedradas na cabeça (p.44). O rei, mais perdoava do que punia. A Saúde não era, e do mesmo modo, uma das grandezas de Lisboa, sempre confrontada com surtos de paludismo. Metade dos mortos (desta época) era composta por crianças com menos de 10 anos. Folhetos, pela urbe, sobre médicos assassinos ou impostores multiplicavam-se. A melhor ciência (europeia) não chegava à generalidade do reino. O único jornal do país era a Gazeta de Lisboa (Molesky, p.83).
Os criados e escravos enchiam as casas – nas mais abastadas, os índices de “serviçais” chegavam a ser anedóticos. Ao olhar do estrangeiro, havia, de resto, uma “chocante familiaridade” entre criados e amos (ausente, tal característica, por exemplo, na rica aristocracia, e suas casas senhoriais, inglesa; no caso português, não existe “refinamento nas boas maneiras, nem uma forma de falar mais apurada”); em cada apelido português podia detetar-se, aliás, a presença da mais alta nobreza e do mais simples popular (p.65). Prostitutas colocavam à porta imagens de Santo António. Objectivo? “Atrair homens para pecar” (p.47; "o pecado que os portugueses consideram mais odioso é o da carne; e é precisamente para aquele que acorrem com maior furor", Molesky, p.70; as doenças venéreas alastram entre todas as classes sociais e as relações extra-conjugais muito frequentes; mais, "no século XVIII, a diferença entre os conventos de Lisboa e os seus bordéis era praticamente nula", p.70). As corridas de touros deleitavam todos os grupos sociais. Casamentos e baptizados da nobreza, certos momentos litúrgicos levavam a uma criteriosa limpeza e embelezamento das ruas, incluindo o derramar de odores sumamente agradáveis, contrastando com o quotidiano mais corriqueiro. A Inquisição estava instalada e os autos de fé transformados em (apetecidos e muito concorridos) espectáculos (com o Inquisidor-Geral escoltado pela fina flor da nobreza), aos quais se assistia, em se podendo, de roupas e joias renovadas e até de camarote, num frémito catártico, no qual o povo, além de cuspidelas e palavrões, gritava sobre os réus: “façam a barba aos cães!”. Todavia, era a ideia de «bem-morrer» que se constituía como uma das «engrenagens-chave» do evento: “[o condenado] Arrepender-se no último momento significava o testemunho de resignação compatível com o ideal cristão; a remissão do pecador era interpretada como uma manifestação do poder divino e, logo, do sucesso da acção inquisitorial. A atitude dos espectadores revelava, por sua vez, um relativo consenso sobre a boa morte, importante, sobremaneira, ao nível das mentalidades. Além de serem acompanhados até ao local do suplício pelo barulhento cortejo, os réus paravam diante de imagens e oratórios ao longo do percurso. Nesses momentos, os espectadores apelavam ao sagrado, tentando estimular a presença divina a manifestar-se através da vítima, já dividida entre o mundo dos vivos e aquele dos mortos. A irrupção do religioso no meio do povo (…) explodia no momento da execução civil dos condenados. A teatralização dos gestos e da palavra dos espectadores e às admoestações dos confessores que o acompanhavam. Logo se criava um estado de intensa comunhão que se manifestava por uma electrizante solidariedade, até entre vítima e carrasco: o último pedia perdão ao primeiro e todo o cortejo rezava com compaixão e uníssono pela sua alma” (pp.79-80).
Em todo o caso, a exportação do vinho do Porto, o ouro do Brasil, a presença de estrangeiros, o comércio faziam com que a cidade, a antiga al-Usbuna, conhecesse modernização nos últimos 200 anos e a par da “sujidade, a violência, o medo, a insalubridade e a pobreza” se desse forte “contraste com obras barrocas, contrapartidas da religiosidade excessiva ou do desejo de afirmação de D. João V”, o que concorria para uma leitura de Lisboa como “uma espécie de Sodoma condenada de antemão pelos maus costumes” (p.61). No dizer de Mark Molesky, historiador doutorado por Harvard e Professor Catedrático de História na Universidade de Seton Hall, desde o primeiro quarto do século XV, Portugal "tirou a Europa do seu isolamento medieval e a lançou nas imensidões oceânicas do globo" e, em definitivo, destaca-se, em preeminência, no século XVI, do conjunto das nações: [referindo-se a 1514] "ao longo dos setenta e cinco anos seguintes, Portugal tornar-se-ia a nação mais importante do mundo e possivelmente a mais poderosa (...) O pequeno reino europeu lograria manter e defender ciosamente (...) um monopólio comercial sobre todo o oceano Índico, que, para todos os efeitos, se convertera num vasto lago de Portugal" (p.49) e, desta forma - até pelo facto de "os seus potenciais inimigos asiáticos - a dinastia Ming, na China, os principados da Índia e o Japão dos xoguns - se encontrarem ou politicamente divididos ou em estado de declínio iminente e os mercadores muçulmanos que então negociavam no oceano Índico estavam maioritariamente desarmados" -, a capital, Lisboa, desde esta época - "a primeira Idade de Ouro de Portugal" - transformou-se "numa verdadeira cidade do mundo" (p.48), com dimensões de opulência e sumptuosidade a atravessá-la. Em realidade, contrastando, em parte, com um certo retrato lúgubre de  Mary del Priore, Mark Molesky, porventura introduzindo um prisma relativo/comparativo do panorama internacional (ou reclamando-nos na problematização do dualismo que alguns, actualmente, quiseram introduzir na política hodierna, entre o estado do país e o estado da população, ou uma fracção desta muito considerável), regista que "Lisboa tornara-se provavelmente a cidade mais ostentatoriamente abastada do mundo, uma metrópole barroca e opulenta que, a seu modo, rivalizava com Roma, Paris, Viena e Londres" (p.36).
D. João V, “o Magnânimo”, "o mais instruído dos monarcas portugueses - aprendeu espanhol, francês, inglês, italiano e matemática com os seus tutores jesuítas" (O Abismo de fogo, p.59),  sobe ao trono, em 1707, com 17 anos, e governa - após cinco anos em que a Governação estivera confiada ao Conselho Real - até 1750 (ano da sua morte). Reinou como um monarca absoluto, dispensando Cortes ou Parlamento. Inspirou-se em Luis XIV e concatenou um impressionante acervo de livros (70 mil volumes), que elevou a prioridade do estado (rivalizando, senão superando, as colecções do Vaticano, da Sorbonne ou de Luis XV; com o terramoto, e os incêndios a que aquele daria lugar, a Biblioteca Real arde: "a destruição da Biblioteca Real conta-se entre uma das grandes tragédias na História do Ocidente, sendo comparável ao incêndio da antiga Biblioteca de Alexandria", Molesky, p.191). Ao mesmo tempo, as artes plásticas não foram descuradas, com a aquisição de vários quadros dos maiores pintores do seu tempo. Homem devotado aos prazeres do espírito, D. João V, cuja obra mais importante de arquitectura (do seu reinado) foi o Convento de Mafra, um homem que já em 1720 bebia o seu chocolate quente (Portugal, desde 1580 o maior produtor de açúcar do mundo, era um país muito afeiçoado a doces, sendo descrito por Voltaire como "o país da marmelada" e onde havia 7 pratos por refeição no paço real), não faltou também aos prazeres (pecados) da carne (teve várias freiras como amantes). 
Em 1755, D. José cumpre 5 dos seus 27 anos de reinado. Na aurora do século XVIII, o predomínio do mundo agrário era esmagador; o domínio da aristocracia senhorial, leiga e eclesiástica, contundente. Com D. José e o Marquês de Pombal, Sebastião Carvalho e Melo - o homem que mais aproveitará politicamente o terramoto, tornando-se como que um 'ditador' - a aristocracia será perseguida e dizimada, o clero perderá prestígio, os jesuítas expulsos (Carvalho e Melo, mantendo-se católico até ao fim da vida, terá bebido em Inglaterra do anti-catolicismo e iria desconfiar de algumas das suas instituições). Convivem, na mesma sociedade, visões cristãs, católico-feudais e humanista-renascentista. O século XVIII, a uma escala internacional, teria traços de dúvida, impiedade, anticlericalismo e deísmo.
 
3. Era Sábado, dia feriado que começava pelas 6h02 com tiros de canhão. Foi antes das 10h da manhã – nos cadernos, que chegaram até nós, de uns, três minutos antes das 10h; nas missivas e diários, de outros, pelas 9h45 ou 9h50 (del Priore chega a aludir às 9h30; em realidade, nesta época, os relógios de bolso não eram comuns, os relógios raros e tal justifica a diversidade dos testemunhos - Molesky, p.96). Certo, certo o céu ter estreado aquele dia de todos os santos sem nuvens, azul, calmo, sereno. Dariam sinal – mas como sabê-lo? -, os animais, a sua agitação, correria, os seus uivos e estridências. Chegou apocalíptico, 7 a 9 minutos de puro terror, o abano inicial forte (o mais forte e mortífero, aliás), as pedras e telhados a caírem sobre as pessoas, muitas delas nas Igrejas e capelas em dia santo. Depois, novos abalos, réplicas. As ondas do mar erguendo-se como montanhas (ondas de 10/15 metros, em realidade), galgando e tragando terra. Velas acesas, templos à pinha, fogos e incêndios mil: a cidade ardeu durante 6 a 8 dias (ou "durante semanas", segundo Mark Molesky, em O abismo de fogo). Os lisboetas não sabiam, sequer, que nome dar ao que se estava a passar, nem, tão pouco, o que fazer (para se protegerem) face ao fenómeno.
Morreram muitos lisboetas. Mas quantos, afinal? As projecções varia(ra)m muito: 14-15 mil (segundo um súbdito francês, projecção sufragada pelo padre António Pereira), 40 mil (segundo o Núncio Apostólico), 50 mil, 70 mil, 90 mil até. Não existe, pois, um número exato dos que pereceram no grande terramoto. Todavia, Miguel Tibério Pedegache, “«o mais avisado dos autores que escreveu sobre a catástrofe, segundo Moreira de Mendonça, falava em 10% dos habitantes. Moreira de Mendonça, depois de exaustivas pesquisas corrigindo fontes diversas, chegou, ele mesmo, à conclusão de que no dia do terramoto teriam perecido cinco mil pessoas e que, até ao final do mês, entre feridos e doentes, outros cinco mil, perfazendo um total de 10% da população” (p.169). 
Os lisboetas julgaram, em muitos dos casos, estar perante o Juízo Final, evocaram o Livro do Apocalipse (6,2): 

"deu-se um grande tremor de terra. O Sol tornou-se preto como um pano de luto e a Lua tornou-se vermelha como o sangue"

O rol de mortos - de entre o quais, o mais distinto seria o embaixador de Espanha em Portugal, D. Bernardo de Rocaberti - permite perceber a composição social de algumas das mais densas ruas lisboetas: família nuclear, com uma média de 3 filhos por casal, com um criado ou escravo para o serviço doméstico. Com o terramoto, 17 mil casas colapsaram (o tremor de terra mandou abaixo 10% das casas da cidade); 3 mil ficaram em condições de habitabilidade. Um terço da cidade foi destruída (p.165). Milhares de animais não humanos pereceram ("milhares de cavalos, burros, mulas e cães morreriam devido a ferimentos ou à desidratação e falta de cuidados", Molesky, p.118).
A origem (hipocentro) do terramoto "não se localizava sob a cidade, mas a várias centenas de quilómetros ao largo da costa sudoeste do reino, ao longo de uma das muitas falhas que irradiam a partir do centro de separação das placas continentais da Eurásia e de África. Um segmento da falha, com uma extensão de 150 a 600 quilómetros, sobre-elevado cerca de 10 metros em relação ao fundo do mar, libertou uma energia impressionante: o equivalente a 475 megatoneladas de TNT ou a 52 mil bombas de Hiroshima (...) Tendo atingido, segundo os sismógrafos, o valor de pelo menos 8,5 - ou mesmo mais de 9,1 - na escala de magnitude de momento, foi um dos mais intensos sismos da História da Humanidade, o maior alguma vez registado no oceano Atlântico e o mais forte a atingir o continente europeu (...) A área fisicamente afetada pelo terramoto abrangeu mais de 5,8 milhões de milhas quadradas (ou seja, 3% da superfície terrestre), valor superior ao registado em qualquer outro desastre conhecido da mesma natureza" (O Abismo de Fogo, Mark Molesky, Relógio d'Água, 2019, pp.16 e 30.).
A Estremadura foi afetada numa zona da costa até Peniche, Leiria, Alcobaça e Ourém e nas vilas de Santarém e Benavente o fenómeno fez igualmente sentir-se. A foz do Sado, de Setúbal a Sines foi corroída. Torres Vedras, Alenquer, Cascais, Alcácer do Sal e Grândola tiveram abalos profundos. A zona da costa até ao cabo de São Vicente e a franja marítima do Algarve sofreram muitas ruínas.
Com ou sem exagero, diferentes autores notaram (muitos) estragos em Coimbra e em Braga, mas também em Castro Marim, Porto, Guimarães, Viana, serras da Estrela e da Arrábida, e até em Bragança (p.157) ou Açores. Fora de Portugal, o terramoto foi sentido e terá tido consequências em Amesterdão e Milão, na Inglaterra, Dinamarca, Suécia, Noruega, Prússia, Irlanda, Marrocos, Argélia, Cabo Verde, Barbados…O noroeste africano foi, fora de Portugal, a zona mais afectada por um terramoto que, no dizer de Mark Molesky, é captado, como nenhuma outra obra de arte consegue fazer, pela grande pintura a óleo de João Glama Stroberle, "Alegoria ao Terramoto de 1755" (p.113).
 
4.Nos minutos em que o terramoto está a ocorrer e nos momentos subsequentes, sabemo-lo pelo testemunho dos sobreviventes, há gestos de extraordinária generosidade, de pronto socorro ao próximo (permeados pelo mais nobre ensinamento e prática cristãos), pais que encontram os filhos, perdidos senão esmagados pelas telhas, pelas pedras, pelos escombros, ao colo de vizinhos, amigos ou, mesmo desconhecidos; um milagre de um sobrevivente ocorre; o abraço entre amigos super-felizes não só, e desde logo, por estarem vivos, mas por reencontrarem amigos que julgavam terem ido na enxurrada. Em simultâneo, há pais que fugirão, mesmo com mulheres e filhos nos escombros reclamando socorro - [relato contemporâneo dos acontecimentos] "os pais deixavam os filhos (...) os esposos se esqueciam das Consortes. Não havia amigo para amigo (...) Ninguém fazia caso dos bens terrenos; só as vidas se procuravam livrar; só se atendia à salvação das almas"; [segundo outro] "não houve nem piedade, nem compaixão, nem humanidade, nem amizade"; [terceiro testemunho] "o receio e a consternação eram tão grandes que nem a pessoa mais resoluta (...) se detinha a remover uma pedra que fosse de cima do amigo mais querido, embora muita gente pudesse ter-se salvado dessa forma (...) em nada mais pensava senão em sobreviver, em chegar a espaços abertos, ao meio das ruas"; [num outro dizer, sobre as acções das pessoas naquele contexto] "mais constrangedoras (...) do que o terramoto em si mesmo" [Molesky, p.115]; [uma testemunha ocular] "infinitas eram as pobres pessoas com membros partidos, abandonadas à força até por quem mais as amava e expostas à miserável tortura de serem queimadas vivas"; [outra sobrevivente do terramoto] "como pode haver termos próprios para exprimir a desumana impiedade com que os pais deixavam os filhos, estes os pais, os irmãos e as irmãs, os amigos os amigos, os maridos as mulheres, para serem sepultados vivos debaixo dos edifícios" [Molesky, p.186] - e, minutos após o tremor de terra e do maremoto ("foi um dos maiores, mais vastos e mais destruidores do seu tipo em toda a História. Formado por três distintas ondas (...) propagou-se pela superfície do mar com um comprimento de onda de, pelo menos, duzentos e quarenta quilómetros", Molesky, p.139; "na verdade, tão mal conhecidos eram os maremotos que não havia termo que os designasse em nenhum dos idiomas europeus (...) O termo hoje mais comumente usado, 'tsunâmi' - que em japonês significa 'onda portuária' - tsu corresponde a 'porto' e nami a 'onda') -, apareceu pela primeira vez no Japão no início do século XVIII, tendo sido supostamente cunhado para designar uma onda que causara danos a um porto piscatório sem que a sua ocorrência tivesse sido notada pelos pescadores, que então se encontravam no mar. O vocábulo tsunami não se tornaria corrente no discurso científico e institucional ocidental senão a partir das derradeiras décadas do século XX, vindo progressivamente a substituir os termos anglo-saxónicos 'onda de maré' e 'onda sísmica marítima', e o 'maremoto' ou 'movimento da maré' do português e espanhol modernos" (Molesky, p.150) - já salteadores e bandidos andarão a roubar pela cidade [ao pensamento, vem, de imediato, o sucedido com o furacão Katrina, na primeira década dos anos 2000, em Nova Orleães, em que muitas destas atitudes, comportamentos, posturas, como reacção das pessoas à catástrofe, incluindo discursos apocalípticos e tributários de concepções de um deus vingativo foram passíveis de serem escutadas]. De grande proximidade com o povo (que julgou estar, mesmo, nos últimos dias), comovido com o que se lhe deparara, o rei, D. José, que irá visitar, a cavalo, a Lisboa que ficara em ruínas, a 3 de Novembro (e a quem o jesuíta José Francisco de la Isla, no Gazeta de Lisboa, aconselhava a mudar a capital do país para Braga, pelas suas melhores condições a vários títulos), é agora pródigo em liberalidades para com os seus súbditos. Ele que se iria abrigar em tendas, quer pelos danos no Paço o imporem (no curto-prazo), quer pelo medo de que a ocorrência voltasse a repetir-se. No próprio dia em que a tragédia sucede, sairão à rua procissões em desagravo com os males – desaproveitamento das riquezas por parte de Lisboa, desbragada criminalidade e violência nas ruas, devassidão e maus costumes – que haviam provocado a “ira de Deus” ("a causa principal [do terramoto] - o castigo divino - parecia clara aos olhos de numerosos lisboetas, se não mesmo da sua maioria", p.151). Há quem, moda mais apurada e sumamente cara, mande vir da Holanda a madeira em construções de casas novas – o luxo depois de se dar de caras com a morte (também aqui se poderão confrontar exageros, e a perenidade de uma certa ‘natureza humana’, que podemos observar no pós-pandemia covid19).
Dez anos após o terramoto, notará um viajante italiano, a cidade ainda não se encontra completamente recomposta, em termos infra-estruturais.
 
5.É necessário “enterrar os mortos e cuidar dos vivos e fechar os portos” (na expressão de Pedro de Almeida, Marquês de Alorna). É urgente evitar pestes, doenças, com os corpos putrefactos. Sepultar os mortos de um modo imediato é imposto por lei e força (o monopólio da violência pertence, então, ao rei e os soldados irão coagir a população de Lisboa a cumprir os éditos, neste contexto). A crise da ausência de uma “boa morte” - a impossibilidade de um arrependimento final, de tempo para “ganhar o Céu”, é tanto mais gritante quanto não haverá lugar a um luto – com todos os seus rituais, saudações, consolos, procissões, com muitos corpos a serem atados a pedras e despejados no mar, por determinação régia e consultado o Patriarcado -, coloca-se com intensidade [e este livro permite observar, evidentemente, também neste domínio, permanências com o tempo da nossa pandémico que atravessámos e, com ele, a ausência de tantos funerais, de um abraço, de uma despedida, de verdadeiro luto].
Na resposta à calamidade, entrará, da mesma sorte, a urgência de encontrar bodes expiatórios (vide p.186) – e aí a nobreza que não aceitaria as reformas pombalinas, os estrangeiros [que eram sinónimo de hereges, quase sempre], os pobres (que não queriam trabalhar, puxando-se, de novo, por este tipo de categorização que sempre parece sobreviver) serão alvos predilectos (prisões, mortes – em especial, dos Távora, mas também do “profeta” e “sebastianistaPadre Malagrida -, novas leis para se trabalhar por 20 vinténs impor-se-ão).
 
6.O título do livro de Mary del Priore, “O mal sobre a terra”, é uma paráfrase ao leit-motiv do poema, bem como de toda a correspondência sobre o Terramoto de Lisboa, de Voltaire, impressionado com o que sucedera em Lisboa: “que crime, que faltas terão cometido essas crianças, esmagadas e ensanguentadas sobre o seio materno?” (p.261). O terramoto de Lisboa manteria, com efeito, interessada toda a Europa ("o debate que se seguiu foi, indubitavelmente, o mais significativo do Iluminismo europeu", Molesky, p.351), provocando o “aumento da ansiedade religiosa, bem como da tensão com explicações científicas ou filosóficas” dos fenómenos (p.261). Para Mark Molesky, efectivamente, "foi o impacto que teve sobre a História do Homem que diferencia o Terramoto de Lisboa de todas as demais catástrofes naturais ou posteriores (...) [entre muitos outros, sobre ele pronunciaram-se] as três mais reputadas mentes do século: Voltaire, Kant e Rousseau" ("O abismo de fogo", pp.30-31).
Em Cândido, Voltaire – “o desastre de Lisboa provocou-lhe profunda crise moral e filosófica. A sua percepção do mal, bem como a maneira de o descrever, mudaram” (p.163) - volta ao problema, entendendo, contra Leibniz, que o optimismo não mais era possível: “Turbilhões de chamas e de cinzas cobriram ruas e praças públicas; casas desabavam; telhados abateram-se sobre as fundações e essas, dispersaram-se; 30 mil habitantes de todas as idades e sexo ficaram esmagados sob ruínas” (p.262). As telhas e pedras haviam caído, passe o esquema maniqueísta, sob as cabeças de justos e pecadores, de bons e maus, de crentes em oração nas Igrejas ou de hereges e isso era motivo de estupor (“uma surda inquietude” perpassou os espíritos). Para Goethe que aos 6 anos “vivera” o terramoto, Lisboa impusera-se como um turbilhão existencial (“«a bondade de Deus tornou-se, de certa maneira, suspeita (…) Uma catástrofe extraordinária mergulhou pela primeira vez em perturbação profunda minha pacífica infância (…) O terramoto de Lisboa repercutiu num terrível pavor pelo mundo”, escreverá Goethe - p.263). Entre as “elites esclarecidas”, como notou o historiador Bronislaw Baczko, “a reacção à catástrofe de Lisboa tomou uma coloração filosófica, traduzindo-se num mal-estar metafísico e moral” (p.264). Por exemplo, “romancistas perguntavam-se como o romance poderia manter o seu carácter moralizador, proclamando «optimismo» ao assistir ao triunfo inelutável da virtude contra o vício, quando, em Lisboa, bons e maus pereceram sem distinção” (p.264).
Quem não declinou a ocasião para reflexão foi Kant, que publicou três ensaios sobre o cataclismo ocorrido em Lisboa. Em História e Fisiografia do terramoto no fim do ano de 1755, editado em 1756, começa por corroborar o que Rousseau (p.266) - que respondera ao poema de Voltaire sobre o terramoto, numa carta que se tornaria célebre, afirmando que preferia a queda do atributo da omnipotência ao da Bondade em Deus (e, em rigor, como mostraria mais tarde, não acreditava na fé em Deus de Voltaire) - diria: “não era, contudo, necessário, construir edifícios sumptuosos em tais localidades [onde terramotos ocorreram], ou seja, aquelas susceptíveis ao furor da terra” (o mal não fora o terramoto; o mal fora a construção em lugares indevidos, pois, de outro modo, os estragos seriam mínimos – eis o que os dois filósofos assim sublinhavam). Todavia, Kant, admirador de Rousseau, “rejeitando as explicações teológicas, tanto quanto as querelas sobre os efeitos da natureza, afirmava que «o homem fica nas trevas quando se propõe a adivinhar as intenções de Deus em governar o mundo” (p.264). A estes considerandos, a apologética respondia de modo tradicional: o tremor fora uma manifestação da ira de Deus. Mas porquê em Lisboa? Para protestantes e jansenistas acolher a Inquisição e os jesuítas eram razões suficientes para a capital portuguesa justificar a cólera divina. "Embora o optimismo e o providencialismo estivessem claramente em voga em 1755, não eram poucos os grandes e influentes pensadores - caso do teólogo William Wollaston, do satírico Jonathan Swift, do matemático e filósofo Pierre Maupertuis e do filósofo David Hume - que desafiavam a visão de um mundo em feliz harmonia" (p.367, Molesky) [relativamente a uma problematização contemporânea, no seio da teologia, partindo, justamente, do evento do Terramoto de Lisboa, atente-se em “Repensar o mal”, do teólogo católico Andrés Torres Queiruga: https://desinflacionar.blogspot.com/2023/03/possibilidades-de-teodiceias.html].
 
7.Nas respostas ao porquê do terramoto (e talvez não nos lembremos que menos de meio século depois de 1755 já tínhamos em Portugal as invasões francesas de Junot, com a problemática da teodiceia de novo a assomar ao país, ainda que no caso do terramoto tenhamos o "mal natural" e os horrores passados nas invasões francesas sejam do domínio do "mal moral"), podemos detectar, na nossa e em sociedades análogas, a “ambiguidade entre naturalismo e providencialismo” (p.284), uma certa “crise de valores”, bem como (crise) de um horizonte claro de sentido. A superstição e as profecias – Lisboa não se corrige, só pensa no comércio e nas riquezas – multiplicam-se. Considerado santo (desde logo, no Brasil), Malagrida, velho sacerdote italiano, missionário jesuíta, arrastando multidões também em Portugal, com relação privilegiada até ao fim da vida com os sectores mais desfavorecidos da população, adivinha nova catástrofe a Lisboa (e com data marcada), o Marquês não concede: tal, iria fazer com que muitos se afastassem do trabalho e da capital e, concomitantemente, que a ruína a esta adviesse. Quem publicasse tais adivinhações, seria, portanto, preso. Malagrida, questionando o rei e lançando mão de Sebastião, considerado o inspirador da tentativa de regicídio de D.José, é desterrado a Setúbal e, mais tarde, condenado à morte (seria executado em 1761, num entardecer de Domingo, aos 72 anos. Fora, também, conselheiro régio, com grande ascendente sobre o rei e rainha e um homem de sermões inflamados - para a memória, e para além da sua muito louvável coragem a socorrer feridos e a administrar os últimos sacramentos aos que padeciam a 1 de Novembro de 1755 em Lisboa, onde também se encontrava, fica a asserção que assestou, naquele seu jeito de gestos dramáticos e oratória vibrante, no dia de todos os santos em que a capital portuguesa ruíra: "Sabe pois, oh Lisboa, que os únicos destruidores de tantas casas e palácios, os assoladores de tantos Templos, e Conventos, homicídios de tantos seus habitadores (...) não são Cometas, não são Estrelas, não são vapores, ou exalações, não são Fenómenos, não são contingências, ou causas naturais; mas são unicamente os nossos intoleráveis pecados" (Os abismos de fogo, p.23). As cerimónias, no dia de sua morte (as suas cinzas seriam atiradas ao Tejo, para não haver mitificação do sacerdote), começaram às 7h da manhã, com Malagrida, um homem que percorrera a pé o nordeste brasileiro, um João Baptista do século XVIII, que na prisão batia, constantemente, de forma violenta com a cabeça no chão enquanto dizia orações, vestido com a sotaina preta da sua Ordem, declarado herege e traidor, constrangido a envergar uma espécie de mitra de papelão e uma longa túnica cinzenta decorada com figurações do demónio e línguas de fogo brilhante. De mãos atrás das costas, mordaça na boca, fez a última viagem pelas ruas da capital, acompanhado de dois monges beneditinos, dois padrinhos e mais de 50 outros condenados do regime). Sob a égide do irmão do Marquês de Pombal, nomeado por este último, como Inquisidor-Geral, que dizia abominar os espectáculos da Inquisição mas mexeu os cordelinhos para este auto-de-fé, o último auto-de-fé tem por "objecto" um jesuíta (e não já um judeu; judeus que eram obrigados a usar marca distintiva na roupa).
O regicídio (tentado, mas falhado) contra D. Manuel daria azo a que uma das Casas mais antigas fosse alvo do Marquês, e da não complacência do rei – que se mostrara, diversamente, muito compassivo nos primeiros tempos pós-terramoto -, com a condenação à morte dos Távora. Mas Pombal “não eliminou as estruturas mentais da sociedade portuguesa”; “o Portugal de D. Maria voltou à beatice e à indolência aristocrática dos tempos de D. João V” (p.306). Mais, “afastado do poder logo depois da morte do rei, Pombal conservou o mesmo argumento que Malagrida: um bombástico panfleto. Intitulado Apologia, procurava justificar os actos que cometera no governo. Mas, em todos os tempos, a vingança é um prato que se serve frio. De volta ao poder depois da Viradeira, os seus antigos inimigos deliciaram-se com o processo que lhe foi movido pela rainha e no qual teve de responder pelas «muitas proposições intoleráveis e até injuriosas» que o escrito continha sobre a memória de D. José. Minado por uma grave doença, o réu teve de passar por um verdadeiro suplício ao longo do processo. Morreu aos 83 anos, sabendo que a condenação à pena máxima só não foi acatada porque a rainha ouviu as indulgentes admoestações do seu confessor, coisa que, diga-se, D. José não fizera pelos jesuítas depois do terramoto” (p.305). O terramoto de Lisboa teve repercussões na Bolsa de Valores de Londres; mas também na solidariedade de muitos estados que enviaram dinheiro e bens à Coroa portuguesa, para minimizar os estragos e prejuízos da catástrofe e, outrossim, auxiliar no reerguer da cidade.
Na síntese da historiadora, “o século XVIII português subverteu o edifício social e não completou o processo de secularização, porém, nos últimos 20 ou 30 anos, houve um grande esforço para pôr em funcionamento a exploração colonial e o desenvolvimento metropolitano (…) Sob a lupa, a trama social, as vidas minúsculas, os restos de experiência revelaram o não factual e os fenómenos profundos ligados à religiosidade lusa, que era, por sua vez, busca e consciência de sacralidade, que era universo ou abordagem espiritual da existência. Tal cultura piedosa feita de práticas, gestos e cultos formavam, então, prolífica linguagem de expressão colectiva (…) Não há clivagens sociais ou políticas no acto colectivo de participação ao sagrado. O homo religious é um só. E ele é o sal dessa estrutura profunda de cultura e de fé que encontramos ao ler a história do terramoto e do seu tempo. O transitório, os restos de experiência que iluminam as lógicas sociais e simbólicas presentes nos documentos apontam para uma característica que foi o grande obstáculo não percebido por Pombal: a espessa estrutura de crenças religiosas das quais os jesuítas, uma parte da velha aristocracia de sangue e o povo português eram profundos e gratos devedores” (p.307).
De acordo com o ensaísta e crítico da cultura portuguesa Miguel Real, que estudou e escreveu sobre este período da história de Portugal, na Introdução a “O mal sobre a Terra – história do grande terramoto de Lisboa” (originalmente, publicado no Brasil em 2003; revisto e publicado, em Portugal, em 2020), com o terramoto esvai-se o “sonho imperial” português e assiste-se a uma ruptura, na sociedade, com a “passagem do Absolutismo para o Regalismo, alimentado por um Iluminismo Católico; menorização do poder da alta aristocracia; valorização da classe dos comerciantes e magistrados” (p.13); ao longo do século XVIII, Lisboa vai mudando a pele “medieval e renascentista”, incorporando o figurino europeu “desde os protocolos da corte à higiene das ruas”. No campo das mentalidades, o terramoto “erigiu-se como trauma psicanalítico colectivo, provando pela descomunalidade do acontecimento e seus efeitos, contra a tradição mítica portuguesa que tinha tido (…) a sua máxima expressão em padre António Vieira (…) com a apologia fabulosa do Quinto Império (…) abrindo um vazio mental (…) de que o sebastianismo se tem alimentado ao longo dos séculos XIX e XX” (p.13). Para Miguel Real, este livro de Mary del Priore é o “melhor em língua portuguesa sobre o Terramoto de Lisboa” (p.14).

Pedro Miranda





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