HIKIKOMORI

 

'HIKIKOMORI'

“A normalidade ou c’o diabo quiserem chamar a esta vida, é tão frágil que pode quebrar-se a qualquer momento. Num segundo, umas notas más, um desengano amoroso ou uma entrevista de emprego falhada [ou o emprego não cumpre as expectativas sociais ou familiares] podem fazer descarrilar um ser humano. Como uma bola de ténis que bate na rede e não se sabe em que lado do campo cairá, todos caminhámos, em algum momento, sob o arame, sem sabermos se iríamos poder integrar-nos na sociedade ou não. (…)

[No Japão] Desde a década de 90, quando estalou a bolha imobiliária que acabou com o sistema de emprego para toda a vida, deixando uma legião de desempregados, assim [hikikomori, nome cunhado pelo médico Tamaki Saito] se denominam as pessoas que se isolaram da sociedade, e inclusivamente das suas famílias, fechando-se nos seus quartos, cortando as suas relações com amigos e parentes. (…)

‘Trata-se de um problema muito frequente [no Japão, onde, segundo os dados do Governo, existe 1,5 milhões de pessoas, dos 15 aos 64 anos, que se encontram nesta situação] pela forte competição e sentido de dever que existe na sociedade nipónica’, critica Naoki, de 46 anos [ele, mesmo, hikikomori, desde que um dia, mudando de colégio, deixou de ter tão boas notas escolares, e não aguentou tal facto, sucumbindo ao isolamento, não ingressando na universidade]”

Há ONG, como 'New Start', que procuram reinserir na sociedade as pessoas que padecem deste problema. O número de hokikomori, no Japão, é idêntico ao de pessoas sem-abrigo nos países ocidentais. “A principal causa [para a existência de hokikomorié o sentimento de vergonha [pelos ‘fracassos’] e retiram-se da sociedade”, diz Tamaki Saito. A difícil relação com a figura de um “pai autoritário”, uma “sociedade muito competitiva e homogénea”, com “com valores confucianos de respeito pelos mais velhos e cumprimento da tradição que, por vezes, chegam a alienar o indivíduo”. “Passam o dia sentados no sofá sem fazer nada, já que o seu cérebro está muito ocupado a pensar no miseráveis que são, e preocupados com o futuro”. Se uma família tem um hikikomori em casa, oculta-o. Nem os irmãos os ajudam, nem admitem que têm um parente hikikomori.

Ao contrário do que se pensava, o problema dos ‘hikikomori’ não é exclusivo da sociedade nipónica, já que cada vez afecta mais pessoas também no Ocidente (…) Em Espanha, o primeiro caso documentado foi descoberto em 2007”.

Pablo M. Díez, “A pandemia fecha ainda mais os ‘hikikomori’ do Japão”, ABC, 16-07-2023, pp.12-13. 

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