TEMAS DA SEMANA - ALGUNS TÓPICOS

 

Temas da semana - alguns tópicos
1.Sobre as propinas nos mestrados, nas universidades públicas portuguesas, Susana Peralta, no "Público" (08-09-2023): "ao contrário de outros Estados-membros da União, Portugal optou pela liberalização do preço na reforma de Bolonha, pelo que há mestrados cujo preço pode ser uma barreira" (para algumas, ou muitas famílias portuguesas).
2.Pedro Mexia, no (ex) 'Governo Sombra', na "SicNotícias": a experiência francesa mostrou que os jovens, com o cheque-livro, investiram, sobretudo, em 'mangá' (anime japonesa), e que talvez as intenções 'educativas' de quem, por cá, propõe idêntica medida, não sejam exatamente que o 'cheque' em causa seja dirigido a esse 'segmente literário' (digamos assim).
3.Gilles Lipovetsky, ao 'Expresso', refletindo sobre os mais nocivos elementos que o "hiperindividualismo" - que para o autor até contém dimensões positivas - contemporâneo produz: "interessa-me e preocupa-me o modo como os cidadãos colocam o bem-estar individual, a vida privada, à frente da vida pública e social. Uma grande proporção não vai votar porque é Domingo, o tempo está bom e é melhor ir nadar...Há uma despolitização e um desinteresse preocupantes".
4.Na Alemanha faltam imensos professores nas escolas, o mesmo em França, Espanha, etc. Ponderando o problema, António Guerreiro, no 'Ípsilon', citando uma Professora francesa, Nathalie Quintane, com décadas de aulas e obra publicada: "se soubessem o número de reuniões e de formações inúteis a que tivemos direito desde há 15 anos...". A docente francesa utiliza a metáfora do hamster que corre para lado nenhum, um movimento circular que não vai a lado nenhum e que tem o fim em si mesmo. Ou seja, diz Guerreiro, "uma máquina de esvaziar sentido, de treinar alunos a dominar códigos. Um hamster movendo a roda a grande velocidade: "é assim que esta professora se sente. Nos momentos em que emerge deste turbilhão, vê a escola como uma violenta experiência de estranheza que lhe dá a sensação de nunca estar no seu lugar".
5.Francisco Mendes da Silva, no "Público" (08-09-23), e a consideração de espaços de comentário televisivos como meros trampolins eleitorais: "a sofisticação daquele produto não está em ele ser um instrumento de análise política, mas uma arma de comunicação política".
6.Susana Peralta, ainda, sobre a devolução das propinas quando a pessoa começa a trabalhar: para muitas famílias - não as mais pobres, isentas de as pagar, nem aquelas cujo pagamento de propinas não faz diferença, mas os mais modestos remediados - o não pagar propinas poderia fazer a diferença entre estudar no ensino superior ou não o fazer; o adiantarem, estas, o dinheiro, a ser-lhes ressarcido, quando necessitariam que o inverso, até, pudesse ocorrer é socialmente relevante. Creches gratuitas e com qualidade certificada; apoios e reforço às aprendizagens com contratação de mais professores para quem não pode beneficiar de 'explicações' e esse avançar público com recursos que poderiam vir a ser ressarcidos ao Estado (caso fosse esse o caso) seria socialmente mais progressivo, aponta a investigadora.
7. Com o contingente especial que foi recentemente criado, alunos carenciados conseguiram entrar em 80% dos cursos mais disputados. O novo regime permitiu o ingresso, mas a diferença de médias para os outros alunos (isto é, para o último classificado do contingente geral) não é significativa. A "quota" criada para beneficiários da Acção Social Escolar foi determinante: sem ela, não teria entrado um único aluno em 80% dos cursos que tiveram nota de ingresso mais elevada. Ainda assim, reitera-se, a diferença nas médias é escassa.
Entre os 30 cursos com as médias mais elevadas, a diferença foi, em média, de 0,6 valores (a menos, para os alunos mais desfavorecidos, quando comparados com o 'contingente geral'). Em casos específicos, como a média de entrada em Medicina, na Abel Salazar, a diferença foi de 0,1 valores (ou, noutro curso, Engenharia Aeroespacial, 0,24 valores; e, como mostrou Sandel em "A Tirania do mérito", consultando vários professores da "Ivy League", nenhuma diferença há, em termos de capacidades, entre um aluno que tem, por exemplo, uma média de 18 valores e outro que tem 18,3 de média). Houve dois cursos, contudo, onde a discrepância foi grande: Economia, na Nova de Lisboa, e Biotecnologia Medicinal, no Politécnico do Porto.
Pelo 'contingente especial', entraram em todo o país 21 alunos em Medicina (que, naturalmente, precisam, agora, de ter possibilidades de alojamento e outras para, pelo seu estudo e dedicação, terem, pois, o elevador social). Creio que foi uma medida, a da criação deste regime, que vai em muito bom sentido ao nível da justiça social. Este ano, entraram para o Ensino Superior 2831 alunos oriundos de famílias carenciadas. O dobro face há um ano.
8.Na próxima segunda-feira, completam-se 50 anos do golpe de estado de Pinochet, no Chile. A esse propósito, um artigo bastante interessante, esta semana, de António Muñoz Molina, em "El País": papéis muito recentemente desclassificados pelo estado norte-americano, e que estão disponíveis online (em plataformas do estado dos EUA), relatam as conversas havidas entre Kissinger e Nixon, a quando da eleição de Allende. Kissinger propõe a Nixon uma estratégia para prejudicar o novo eleito: conspirar com as ditaduras militares brasileiras e argentinas para o derrubar; influenciar vários outros países, no panorama internacional, com um sistema de 'benefícios' e 'sanções' para os 'motivar', com vista a não investirem no Chile; pelos mesmos caminhos, dificultar, ao máximo, o financiamento do país; conspirar com homens de negócios e indústria chilenos para derrubar o Governo, se necessário; se necessário, diz Kissinger, avançar militarmente contra o Governo (não fosse o tipo de ideologia nele presente espalhar-se a outros países). Pinochet daria, então, o golpe de misericórdia naquele governo e regime. Para Muñoz Molina, o tempo, pelo esquecimento, favorece sempre os tiranos ou outras figuras sinistras, como as que ele vê nos conselheiros do Príncipe, sendo que não aceita, sem mais, ver, agora, Kissinger retratado (apenas) como "sábio" ou "erudito" das "relações internacionais". Para Molina, há que resgatar a dimensão ética presente (ou ausente) de decisões ou deliberações (políticas) em que esta contou, de sobremaneira, na vida de milhões de pessoas. Lembrei-me disto em zapping recente, por espaços televisivos como os identificados por Mendes da Silva, e pelo modo como se apresentou "Lideranças" (o mais recente livro de Kissinger que, nas pequenas biografias que traça daqueles que, para o autor, foram líderes exemplares, com certeza terá motivos bastantes de interesse; o modo, porém, como se apresenta e contextualiza, ou não se contextualiza, o autor é que é outra coisa e nada negligenciável).

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