COMPREENDER, COM PAUL KRUGMAN

 

COMPREENDER

Uma das afirmações mais curiosas e interessantes da entrevista do Nobel da Economia (2008), Paul Krugman, hoje, em entrevista a Diana Ramos e Paulo Pinto, para o 'Jornal de Negócios' é a noção de que "ninguém sabe realmente porque é que alguns países se saem bem [economicamente, num dado lapso de tempo]"
Com obra publicada em português, na qual é possível detectar um social-democrata (em sentido lato), Krugman apresenta-se como defensor, sobretudo, de políticas anticíclicas, fazendo, neste contexto, questão de frisar que não defende défices orçamentais em todos os casos (anos)/conjunturas: "Nem sempre sou um defensor de défices. É algo que se deve ter, se possível, quando há desemprego em grande escala e a economia precisa de estímulos, mas Portugal não precisa neste momento. Por outro lado, cria espaço orçamental para tempos futuros em que défices sejam de novo necessários".
Ainda que faça depender uma avaliação final do conhecimento dos detalhes do fundo a criar com excedentes orçamentais em Portugal, produz, no imediato, uma apreciação positiva dos mesmos: "Para os países, mas também para as empresas, ter uma espécie de orçamento de capital, fazendo uma distinção entre despesas correntes e de capital, há muito que é uma boa [ideia] (...) Há uma grande diferença entre gastar dinheiro em coisas populares a curto prazo e gastar dinheiro na manutenção de infra-estruturas e na construção do futuro".
Solicitado a olhar para o período da troika em Portugal, Paul Krugman entende que o país foi sujeito a "uma austeridade extrema" que, economicamente, não era necessária e que foi adoptada porque partindo de pressupostos errados: "Acabou por se revelar que foi baseado numa falsa premissa. A premissa era que os encargos da dívida eram simplesmente insustentáveis e que havia uma crise que exigia uma austeridade extrema. Foi visto como uma crise que exigia uma austeridade extrema e hoje sabemos que a crise era basicamente um pânico de mercado. Era uma crise de liquidez causada por receios de incumprimento. A maior parte da crise desapareceu quando Mario Draghi disse três palavras: 'o que for preciso'. E, de repente, os 'spreads' vieram por aí abaixo. Eram medidas extremas baseadas numa apreensão errada do problema.
Eu estava certo em ser crítico nessa altura e, certamente, deveriam ser atribuídos prémios a Draghi por ter finalmente feito o que tinha de ser feito. E, para uma figura menos conhecida, Paul de Grauwe, economista belga que foi o primeiro a compreender o que estava a acontecer".

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