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A mostrar mensagens de março, 2024

O GRANDE CÓDIGO DA CULTURA OCIDENTAL

  O GRANDE CÓDIGO DA CULTURA OCIDENTAL Só sobre o episódio de Lázaro , e entre outros, desenharam e pintaram essa narrativa bíblica: Giotto (em 1300, agora exposta em Pádua); Juan Flandes , no século XVI (agora, quadro exposto no Museu do Prado); Sebastiano del Piombo , em 1500,com Miguel Ângelo (agora, exposto no Museu Britânico); Rembrandt , Van Gogh , Henry Tanner (em 1896, exposto no Museu d'Orsay, em Paris)... Na literatura, "Lázaro" ,conto de Leonid Andreyev , o poema "Lazarus", de Edwin Arlington Robinson , a peça de teatro "Lazarus and His Beloved", de Kahlil Gibran , a peça "Calvary", de William Butler Yeats , de 1921. A peça de Eugene O'Neill , de 1925, "Lazarus Laughed". Lázaro aparece no poema "The Love Song of J.Alfred Prufrock", de T.S. Eliot (1915); Sylvia Plath titulou o poema "Lady Lazarus" para falar de morte e ressurreição; o romance "Lazarus is Dead", de Richard Beard , bem

HANS KUNG: 'AQUILO EM QUE CREIO'

  Hans Kung. Aquilo em que creio Em Aquilo em que creio , um dos mais reconhecidos teólogos católicos do último meio século, recentemente falecido, em linguagem acessível ao grande público, percorre a indagação histórica, a Ocidente, sobre o sentido da vida, recusa a possibilidade de teodiceia e postula uma justiça final, de cariz escatológico, para os injustiçados na Terra 1 .Hans Kung, em Aquilo em que creio ( Temas e Debates , 2014), faz notar que a pergunta pelo sentido da vida é uma interrogação iminentemente moderna. Quer dizer, a questão, para os contemporâneos da Bíblia hebraica, do Novo Testamento ou da Idade Média, nem se colocava: Deus e os seus mandamentos, como desde tempos imemoriais, era a evidência da resposta, não necessitada de se requerer explicitamente. A comunidade (crente) apoiava e suportava tal fé; nenhuma razão, pois, para divisar um sentido específico para uma vida individual. 2 .O primeiro autor a colocar o problema é o jurista e teólogo João Calvino,

20 ANOS DO TEATRO DE VILA REAL

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  UM BRINDE AOS 20 ANOS DO TEATRO DE VILA REAL! MUITOS PARABÉNS! E que melhor prenda do que o concerto de piano desta noite, a quatro mãos, de Pedro Burmester e Mário Laginha , e a magnífica interpretação do 'Bolero', de Ravel , ou de peças repletas de melancolia e sensibilidade de Bernardo Sassetti ? Venham mais 20!

O "CADERNO AFEGÃO", DE ALEXANDRA LUCAS COELHO

  O caderno afegão , de Alexandra Lucas Coelho   Numa época em que nos enredamos em um torvelinho de notícias sucessivamente substituídas pela novidade seguinte (que logo abandonamos, também), convite a fixarmo-nos, com redobrada atenção, na realidade do Afeganistão – que, ainda há semanas, debatíamos de forma apaixonada, mas da qual, como quase tudo o mais, rapidamente parecemos cansados - que lá nos confins do mundo tem marcado a vida política internacional das últimas décadas.   Fazê-lo com recurso ao “Caderno afegão” (agora reeditado, pela Caminho), de Alexandra Lucas Coelho é aceitar entrar em um fascinante e complexo universo de signos contraditórios, tradições que desafiam qualquer quadro simplista, adentrarmo-nos no conhecimento aturado de uma história multisecular, abeirarmo-nos de uma paisagem física e humana de cortar a respiração. Tudo narrado por um olhar afiado, de lâmina – para utilizar os termos da autora - de uma extraordinária jornalista/escritora que nos dá a con

DIAS SEGUINTES

  DIAS SEGUINTES Vicente Valentim , investigador de Ciência Política na Universidade de Oxford , hoje, em entrevista à " Sábado " diz que " a razão principal que explica a explosão da direita radical não é o voto de protesto ": Para este investigador, é a "normalização" da extrema direita que explica a explosão de votos nela : " Havia pessoas que já tinham ideias de direita radical, mas que sentiam que não era bem-visto expressá-las e que agora se sentem confortáveis ". Sem ter soluções mágicas para travar a extrema-direita, o cientista político tem como claro aquilo que não funciona: "uma aproximação do centro-direita à direita radical. (...) O estudo mais abrangente que conheço mostra que não funciona para tirar votos à direita radical, nem para aumentar as forças do centro-direita. (...) No que toca à erosão das normas democráticas e ao que põe as pessoas mais à vontade para terem comportamentos xenófobos (...) Normaliza ainda mais [a ex

SECULARIZADOS DEVERAS?

  Secularizados deveras?   Uma afirmação perentória, sem matizes ou ambiguidades, da secularização como fenómeno inequivocamente instalado (nomeadamente, hoje, a Ocidente) tende, em realidade, a negligenciar uma consideração outra de perspectiva: a que nos remete para a perenidade do religioso, do sagrado no – entre o – humano. Neste sentido, dificilmente a chamada “morte de Deus” seria susceptível de exaurir a dimensão crente da pessoa humana – homo credens , por definição, pois – pelo que, mais do que falar em secularização , devemos atentar, antes, na deslocação do sagrado para âmbitos até aqui considerados profanos . Da ciência às ideologias , passando pela economia , o partido , a nação , a natureza , o desporto ou os media , várias são as novas sedes sacralizadas . E, todavia, radicalmente, nenhuma delas, outrossim, alcança substituir o Deus da confiança, o “exterior fundamento do sujeito”; a modernidade, sempre à procura de um (novo) deus que substituísse Aquele , institu

BIBLIOTECA (S)

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  BIBLIOTECA (S) O mais recente 'Retrato' da FFMS , " A Biblioteca. Uma segunda casa " (2024), da autoria de Manuel Carvalho Coutinho , selecionou a Biblioteca Municipal Dr. Júlio Teixeira (Vila Real) como um das 14 Bibliotecas Municipais do país a merecer visita (que o autor do Retrato concretizou) e quatro páginas de apontamentos sobre o mais relevante que o Investigador e Professor, de Filosofia e de Ciências da Comunicação, encontrou por cá. Ficamos, então, a saber - se em outras fontes não o tivéssemos bebido - que, no final de 2022, a Biblioteca Municipal de Vila Real possuía um espólio de 140 mil livros; que o espaço da Biblioteca é, já, exíguo face às necessidades, tendo muitos volumes sido encaminhados, entretanto, para uma Escola local "desactivada" (e, ainda, para o que seria, previsivelmente, uma garagem no edificado da Biblioteca); que a Biblioteca Municipal de Vila Real é uma das 5 bibliotecas públicas mais antigas do país, juntamente com as

"A ZONA DE INTERESSE", DE JONHATAN GLAZER

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  A ZONA DE INTERESSE , DE JONATHAN GLAZER O pai extremoso que conta histórias às crianças ao deitar – mas narrativas ancestrais germânicas, nas quais há bruxas a queimar, lugares quiméricos o dos arianos que se encontram prontos a lançar um fogo “purificador” ao “outro”, num contorno, portanto, ainda ambíguo [a pureza de embalar os meninos no ocaso do dia e os mitos de “fogo” nesse embalo; cultos pagãos que veremos perpetuarem-se durante os dias de Oswiecim] e que lança a fronteira paraíso / inferno omnipresente no filme (aqui, nessa construção sonho-defunto que justifica, para o casal, qualquer “sacrifício” [seu e, fundamentalmente, dos humanos aos quais colocam termo], de um lugar idílico colado a uma linha de montagem da morte de humanos, evidentemente, um paraíso absolutamente obsceno) -, o melómano que remete a concertos de música clássica a que assistiu recentemente (e o homem lido, deitado no sofá com o respectivo volume nas mãos, assim o encontramos por casa, que não de

"LEANOR"

  NOS 500 ANOS DO NASCIMENTO DE LUÍS VAZ DE CAMÕES E QUANDO O PROF. HÉLDER MACEDO LANÇA NOVO LIVRO, RETOMO ESTA MEMÓRIA. Relendo o camoniano poema e descobrindo nele novas significações: Descalça vai para a fonte Leanor pela verdura; vai fermosa e não segura Leva na cabeça o pote, o testo nas mãos de prata, cinta de fina escarlata, saínho de chamalote; traz a vasquinha de cote, mais branca que a neve pura; vai fermosa e não segura. Descobre a touca a garganta, cabelos d'ouro o trançado, fita de cor d'encarnado, tão linda que o mundo espanta; chove nela graça tanta que dá graça à fermosura; vai fermosa e não segura. Aqui, com a tradução e os acrescentos significativos trazidos pelas observações contidas na obra do Professor Hélder Macedo , "Camões e outros contemporâneos", Presença , 2017, (pp.86 e ss.) "Descalça (com os pés expostos) vai para a fonte (lugar de encontro e metáfora da sexualidade feminina) Leanor (nome etimologicamente relacionado com a «luz» o

'COMO VENCER UMA ELEIÇÃO'

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  ' COMO VENCER UMA ELEIÇÃO ' Maquiavelismo (muito) antes de Maquiavel . Quinto Túlio Cícero (será? os estudiosos dividem-se quanto à autoria da carta, e respectivos conselhos eleitorais, que sustentam este livro, como explica, na 'Introdução', Philip Freeman ), procura advertir o irmão, Marco Cícero , um brilhante retórico e advogado de causas impossíveis, sobre o que deve fazer para ganhar a eleição para Cônsul (cargo mais elevado na República ), na grande Roma. Mesmo sem sangue azul, 'meritocracia', afinal, a funcionar em 64 a.C., Marco Cícero é eleito (o último cidadão a ser eleito cônsul, não pertencendo à classe senatorial, havia alcançado tal honra 30 anos antes). Mesmo que, anos mais tarde, seja assassinado, como o irmão, e a República ceda lugar ao Império. Intemporais são os homens e as mulheres que se vêem retratados neste escrito clássico, a propósito de um metier que está longe de ter mudado assim tanto mais de 2070 anos depois. Entre a 'scient

PROTECÇÃO SOCIAL E ESTRATÉGIA DE CRESCIMENTO. JOSEPH STIGLITZ E MARY KALDOR

  Protecção social e estratégia de crescimento. Joseph Stiglitz e Mary Kaldor Quando já se discutem políticas para o futuro do país, e na semana em que um relatório da SEDES incentivou a adoção de um modelo de flexissegurança no emprego em Portugal, um olhar para o modo como foi implementado nos países nórdicos e a procura da combinação óptima entre liberdade e igualdade, a partir de “Em busca de segurança” ( Bertrand , 2015), de Joseph Stiglitz e Mary Kaldor 1. Pensada, demasiadas vezes, pelo exclusivo prisma de um socorro de última instância, ou, mesmo, em chave assistencialista, a questão da protecção social pode e deve ser concebida, também e muito, pela lente de uma estratégia económica de crescimento. O exemplo dado, a este respeito, pelos países nórdicos é muito animador. 2. Em realidade, a extensa rede de segurança pensada pelos países escandinavos tem/teve um efeito extraordinário no sucesso da abertura à globalização por parte destes (sendo um dos factores relevantes,