DEVEM OS ROBÔS SER TAXADOS?
Os
robôs devem pagar impostos?
1.Nos últimos dois/três anos, a possibilidade, corroborada
por vários estudos, de os robots, em vários países, virem a substituir milhões
de trabalhadores, levou a que tenha sido, e continue a ser, ponderada e
debatida a criação de impostos a incidir por cada robot utilizado por uma dada
empresa. A partir do momento em que esta, a empresa, e o seu, ou os seus
detentores, utilizando robots, maximizam o lucro e, ao mesmo tempo, muita gente
que fica, mesmo que temporariamente, sem emprego, entenderam muitos cidadãos,
entre os quais Bill Gates, fundador
da Microsoft, que o recurso a robots
devia efetivamente ser taxado, até como forma de financiamento da
requalificação dos trabalhadores ou pagamento de rescisões contratuais dos que
não podem ser requalificados, ou, ainda, como financiamento de tarefas cada vez
mais necessárias e não suscetíveis de substituição por robots, como os cuidados
de idosos ou o reforço salarial de professores, na área da educação.
2.Face a esta argumentação, um ex-Secretário do Tesouro dos
EUA, Larry Summers contestou, nos
seguintes termos: a) se se vai taxar os robots, por que não dar o mesmo
tratamento a todas as máquinas que a indústria utiliza para trabalho que podia
ser feito por humanos?; b) em segundo lugar, e num ponto que creio que o
Ministro do Trabalho português, Vieira da Silva, partilha: com a taxação dos
robots, muito provavelmente, estar-se-á a desencorajar inovações úteis. Deve
tal ser feito? Num mundo de carros sem motorista crê-se que os acidentes serão
muito mais raros e pensa-se que a robótica ajudará médicos a realizar cirurgias
que salvam vidas. Um terceiro argumento de Summers: c) as deslocalizações das
empresas que utilizem estas inovações para onde a taxação não acontece e os empregos
ficam em causa.
3.Como refere Ian
Bremmer, em Nós contra eles,
ensaio no qual podemos ler sobre estas duas posições, há bons argumentos em
ambos os lados. Creio, aliás, que aqui temos um bom exemplo da dificuldade que
a deliberação política implica, longe das simplificações repetidas vezes sem
conta. E julgo, ainda, que esta questão só ganha em ser decidida numa escala
supranacional e com possibilidades de, em vez das partes se afastarem
totalmente, haver uma solução de compromisso neste tema.
Em
anteriores reparos, referi-me à
questão da formação profissional e das agências que têm sido criadas, e a
criar, no sentido da adaptação de trabalhadores ao mundo digital; à dificuldade
de países em vias de desenvolvimento terem os recursos económicos e culturais
para responderem à revolução em curso e da agitação social e do regime
democrático quando tal não suceda; abordei a problemática do rendimento básico
incondicional. Concluo, hoje, com a questão da taxação de robots a equação
deste vasto conjunto de problemáticas que se me afiguram como determinantes
para o futuro das nossas sociedades.
Boa
semana.
Pedro
Miranda
[originalmente publicado na rubrica “reparo do dia”, na ufm]
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