FCP, UMA IDENTIDADE

 

Luís Osório, 5 de Dezembro de 2022, na sua página de Facebook:


"3.
Nestes tempos de cólera, e depois de o meu Benfica ter perdido duas vezes no Porto, quero fazer o elogio de um clube verdadeiramente único com uma identidade própria e que faz da união e da solidariedade entre todos o seu modo de vida, a sua força e razão de existir.

O FC. Porto não é apenas um clubeé um modo de expressar o orgulho de uma região tantas vezes esquecida pelos poderes, tantas vezes ostracizada.

Impossível perceber o clube sem nos perdermos nas ruas da Ribeira, na faina dos pescadores de Vila do Conde e da Póvoa (apesar do Rio Ave e do Varzim), nos bairros de gente pobre e trabalhadora, gente habituada ao frio que corta no inverno, frio que magoa a pele, mas que não quebra.

Impossível perceber o clube sem entendermos as lágrimas dos mais velhos com umas tripas feitas à antiga, as portas abertas entre vizinhos, as porradas dos miúdos nos seus jogos de bola na rua, as asneiras transformadas em modo de vida, o poder dos “pintas”, mas também a arte única que têm de oferecer a única camisola que têm no corpo a um estranho que possa ter frio.

4.
Chocamo-nos em Lisboa com Sérgio Conceição, mas ninguém do FC. Porto seria capaz de se chocar com um homem que corporiza a essência de um clube onde só pode ser digno o que dá tudo o que tem, o que se sacrifica em nome do colega ao lado, o que é mau se tiver de ser mau, o que amedronta se tiver de amedrontar.

Ser do FC. Porto é um ato de resistência.

Vestir aquela camisola é um grito contra as injustiçascontra os poderes que condenam o norte a ser um parente pobre, contra os jornais que oferecem sempre as suas primeiras páginas ao Benfica ou ao Sporting, contra os que não compreendem que a vida custa a ganhar, contra os privilegiados.

Ser do FC. Porto é comer a camisola e fazer o que é preciso para ganhar.
Numa guerra faz-se o que for preciso.

5.
Ser do FC. Porto é respeitar a pronúncia e o Douro, é ter orgulho nas duas margens do rio, é saber respeitar os mortos e a memória.

Jogar no FC. Porto é fazer parte de uma família e contribuir para uma história que torna cada pessoa mais importante do que os títulos que ganha.

6.
É assim que vejo o FC. Porto.

Irrita-me?
Muitas vezes.

Gostaria que o Benfica pudesse ser assim?
Não. Pela simples razão de que a identidade não é um desejo, a identidade de cada clube depende da sua história e do lugar de onde se é.
Benfica e o Sporting têm a sua própria identidade.

Mas não me digam que o FC. Porto não é extraordinário.

Não me digam que não é mais do que um clube.

Não me digam que não é uma bandeira dos que acreditam que não há derrotados por antecipação – na vida ou num campo de futebol – que tudo é possível quando se combate com convicção pelo que se acredita"

Comentários

Mensagens populares deste blogue

SENTIDO DA/NA VIDA (DESIDÉRIO MURCHO E SUSAN WOLF)

CADERNO DE APONTAMENTOS

'A DERROTA DO OCIDENTE', SEGUNDO EMMANUEL TODD