RUY DE CARVALHO, ESTA NOITE, NO TEATRO DE VILA REAL

 

Registo da passagem de RUY DE CARVALHO, esta noite, pelo Teatro de Vila Real, em diálogo com a plateia

De pai, oficial militar, vilarealense, mãe, pianista (com aulas com Vianna da Mota), lisboeta, e avó alentejana – região de que o actor é embaixador -, Ruy de Carvalho, nascido na capital portuguesa, com formação no Conservatório e em palco desde meados dos anos 40, disse, esta noite, em tom beirão, no pequeno auditório do Teatro de Vila Real, um excerto do “Monólogo do Vaqueiro”, do ourives Gil Vicentea trabalhar na Póvoa do Lanhoso (assim homenageando o povo português, a quem, por diversas vezes, teceu loas). Evocado ficava, outrossim, desta sorte, o primeiro teleteatro português, em 1957, na RTP, precisamente com a interpretação, com o “Auto da Visitação”, daquele que a 1 de Março próximo completará 98 anos.
Ele que com “Rei Lear” seria premiado internacionalmente – e, quando foi convidado a representar fora de Portugal, Ruy de Carvalho ponderou fazê-lo, mas sempre como português -, tendo, hoje, uma fotografia, de uma sua actuação, no 'Museu Shakespeare', em Londres. No dia em que iria condecorá-lo, sendo Presidente da República, em 1998, Jorge Sampaio, um cultor das várias artes, choraria compulsivamente depois de assistir à representação de Lear (colocando, depois, ao contrário, a respectiva peça/objecto homenageador em Ruy de Carvalho). A peça que mais o marcou, de entre aquelas que interpretou, foi "O render dos heróis", baseado em romance José Cardoso Pires que, no entender de Ruy de Carvalho, merecia o Nobel da Literatura.
Em noite, em 'Conversa de Bastidores', que serviu, sobretudo, de aclamação por uma vida e obra, recordou-se, em Vila Real, a passagem, naquele mesmo Teatro, do actor, há 20 anos, por ocasião da representação de uma outra peça de Gil Vicente, cujo retrato lhe foi, agora, ofertado. E foi a permanente exaltação da vida que percorreu o discurso – “só a vida é verdadeira, a morte não existe!” – de quem para lá do teatro, da direcção artística, do cinema, chegou a representar, também, os que se acham, já, velhos exortando-os a participar e preencherem de vida o seu presente – “somos sempre úteis até ao fim! Temos sempre dentro de nós o rapaz de 18 anos que fomos”. Mais: “eu já fui canceroso, tive três tumores malignos e superei-os sempre. Nunca fiz quimioterapia, oh fazias!...”. Para Ruy de Carvalho, que vê em Trump um "tipo perigoso", foram as diversas personagens, permitindo-lhe ser coisas múltiplas ao longo da vida, que o encheram de ânimo para prosseguir sempre. Gosta de ser palhaço (e recordou um, também médico, que em Lisboa, por não suficiente consideração, migrou, com recepção calorosa, para Paris).
Ao início da conversa, Ruy de Carvalho, aos 2 anos embarcando para África por via da comissão paterna, mais tarde na Covilhã, contracenando com actores brasileiros como Sónia Braga, Fernanda Montenegro ou Tony Ramos, que se não fosse actor – e como gosta de o ser!, foi incentivado, nunca contrariado para tal, em família, tinha dois irmãos que já eram actores quando nasceu, o pai já nos 46 anos e a mãe com 43 – gostaria de ser médico (de clínica geral), e que nunca trocou falas de peças que interpretava em simultâneo, lembrou, com afecto, a pequena moda transmontana: “Oh! Vila Real alegre/Capital de Trás-os-Montes!/ No dia que te não vejo/Meus olhos são duas fontes!”.




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