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A mostrar mensagens de fevereiro, 2025

SARAU DE POESIA

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  SARAU DE POESIA Poucos dias antes de Adília Lopes morrer, José Tolentino de Mendonça , no podcast “ O poema ensina a cair ”, estabelecia um certo paralelismo, uma inscrição em referências (do quotidiano) ou modos/capacidade de espanto com pontos de contacto entre aquela poeta e Adélia Prado . Um dia, seguramente, encontrar-se-iam – ao que o advérbio de modo “fisicamente” seria, aqui, redundante, dada o sensível, o sensual, o prosaico do dia-a-dia ser agarrado, com garbo, pelos colarinhos, por ambas as autoras. Não chegaram a abraçar-se, mas seguimos a sugestão da pegada, conjuntamente tomada, destas poetisas – a Adília “a quem foi dado pouco, e do pouco fez muito” – a desconcertante e muito espirituosa arte de no mais singelo iluminar o maior e de o (re)valorizar, ensinando-nos, desta sorte, a gratidão (e a dignificação do que só por erro de paralaxe valorativa julgamos ínfimo: no mesmo, cabe a música da antena2 e dos miúdos a correr cá fora e os cães a ladrar - como que integr...

MARCO MARTINS EM MATEUS

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  MARCO MARTINS Esta tarde, em Mateus , a escutar Marco Martins , realizador de dois dos filmes portugueses de que mais gosto, “ Alice ” (2005) e “ São Jorge ” (2016) (sem esquecer “ Great Yarmouth – Provisional Figures ”, 2022). Ficando a saber, desde logo, que em “Alice” o autor pretendeu (também) “ falar de uma cidade [Lisboa] que estava a transformar-se em mais anónima e não tão humana ”. Mário , personagem central da trama, pai desesperado de uma filha que desaparecera – em época na qual, na realidade, em Portugal, Zé Pedro era criança que desaparecera e o país passara a conhecer; sua mãe ‘via’ Zé Pedro em cada criança de 9 anos que passava na rua…mesmo quando Zé Pedro teria já bem mais idade…assim Mário face a Alice… – distribui folhetos junto ao metro e em outros pontos da cidade (coloca câmaras por toda a urbe), tentando que alguém possa fornecer uma pista preciosa acerca do paradeiro da descendente. “ Quero filmar na rua sem qualquer restrição ”, dirá, então, Marco M...

'IA E DEMOCRACIA'

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  Hoje, escutando e dialogando com o Prof. Arsénio Reis , Coordenador do Laboratório de Sistemas Inteligentes da UTAD e com a Direcção do Curso de Engenharia Informática na mesma instituição, na Escola Secundária de Murça, sobre o tema "Inteligência Artificial e Democracia" - Partindo, nós, do diagnóstico de Adela Cortina (" Ética ou ideologia de la inteligência artificial? ", Paidós, 2024) de que, mo século XXI, está a produzir-se um eclipse da razão, produzido pelo triunfo da razão instrumental e estratégica que colonizou todo o âmbito do espaço público e de que para comunicar é preciso cuidar com cuidado a palavra, porque esta tem de ser veraz; - Uma das experiências relatadas pela filósofa e em cuja conclusão também nos revemos: em Washington, face aos resultados escolares deficitários, a reitora em centros educativos da primária e do Secundário criou uma ferramenta para avaliação dos professores chamada IMPACT. A ideia, na selecção e recrutamento de professo...

COMOÇÃO E DESORDEM

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1 .E porquê a sedução ou queda em Tanatos (o antagonista de Eros, o impulso do amor) , o impulso destrutivo , a pulsão de morte  (na psique humana) que, tantas vezes, e, de novo, ao longo dos últimos anos, pareceu reemergir em força nas nossas sociedades (guerras ampliadas a territórios de que estavam desaparecidas há décadas, desconsolidação democrática, ‘democracias do ódio’…)? O antropólogo, pensador norte-americano Ernest Becker (1924-1974) propôs a seguinte explicação (estrutural) para aquele suceder: “o impulso destruidor seria uma reacção à comoção que a nossa mortalidade produz em nós . Humanos, reprimimos a nossa consciência da morte identificando-nos com uma ideia ou crença e, de imediato, matando por [em nome de] ela . Destruir outras pessoas [motivado] por uma abstracção cria nos destruidores a ilusão de fuga da mortalidade à qual enviam os destruídos. Segundo este paradoxo psicanalítico , o assassinato em massa viria a ser a expressão mais extrema dessa negação da mort...