'IA E DEMOCRACIA'
Hoje, escutando e dialogando com o Prof. Arsénio Reis, Coordenador do Laboratório de Sistemas Inteligentes da UTAD e com a Direcção do Curso de Engenharia Informática na mesma instituição, na Escola Secundária de Murça, sobre o tema "Inteligência Artificial e Democracia"
- Partindo, nós, do
diagnóstico de Adela Cortina ("Ética ou ideologia de la inteligência artificial?",
Paidós, 2024) de que, mo século XXI, está a produzir-se um eclipse da razão,
produzido pelo triunfo da razão instrumental e estratégica que colonizou todo o
âmbito do espaço público e de que para comunicar é preciso cuidar com cuidado a
palavra, porque esta tem de ser veraz;
- Uma das experiências
relatadas pela filósofa e em cuja conclusão também nos revemos: em Washington,
face aos resultados escolares deficitários, a reitora em centros educativos da
primária e do Secundário criou uma ferramenta para avaliação dos professores
chamada IMPACT. A ideia, na selecção e recrutamento de professores, era evitar
vieses humanos, evitar subjectivismos, amiguismos...Mas com base neste
mecanismo, uma professora muito apreciada por pais, alunos, diretor foi
demitida - mais tarde, recuperada por uma escola privada que muito a quis. Ora,
"acreditar que as tecnologias são neutrais é pura ideologia" (p.75).
Ora, os sistemas inteligentes tem vieses. Os afectados têm direito a controlar
o uso dos seus (nossos) dados e a conhecerem os algoritmos que os manejam. Os
vieses dos algoritmos podem resultar dos vieses dos programadores;
- De acordo com o
Regulamento Geral de Protecção de Dados da União Europeia (2018), os cidadãos
europeus não devem ser sujeitos a decisões baseadas unicamente no processamento
automático de dados, nem a práticas de contratação digital sem intervenção
humana. (p.73);
- Com as ideias e crenças
pós-humanistas, talvez um ponto refrescante e não já um a priori dado como
óbvio seja este: os sistemas inteligentes são instrumentos para melhorar a vida
humana e a da natureza e não fins em si mesmos. "No mundo pós-moderno
nihilista, a hybris é considerada uma qualidade necessária ao progresso e
recebe a recompensa devida aos audazes" (p.48); "Chega a ser o que
és" (máxima de Píndaro e de Nietzsche); hoje, com a IA: "chega a ser
o que não és!"; No limite, teremos pessoas inorgânicas? Pós-humano:
aperfeiçoamento/superação de tantas (das) qualidades humanas que (o que/quem
passamos a ter) já não seria humano. Se os robôs forem autónomos, terão
direitos e deveres. E devem merecera nossa compaixão? Devem ser eleitos como
nossos representantes em sociedades democráticas? (como, aliás, já sucedeu, no
Japão, em localidade de 150 mil habitantes);
- Se as máquinas aprendem
por si próprias, (não) iriam manter os valores de respeito, solidariedade,
justiça ou compaixão (?) - os sistemas iriam propor os seus próprios valores
(?) (p.37);
- Quem é responsável pelos
danos causados pelos robôs, dado que estes não possuem auto-propriedade?;
- Fala-se em carros
autónomos, mas a autonomia é algo que só se aplica aos humanos. Só estes têm
capacidade para auto-legislar-se;
- Os documentos sobre a IA
na Europa são humanocêntricos, ainda que com obrigação de respeitar também a
natureza;
- Relativamente à IA (não
só, mas também...), EUA são líderes na inovação; a China na produtividade; a UE
na normatividade (p.67). Estas características irão manter-se tal quale, mesmo
depois do tipo de (primeira) reacção dos responsáveis europeus ao 'Deepseek'
(chinês)? Até aqui, na UE, procurou conjugar-se a eficiência com a protecção e
promoção dos direitos pessoais; evitar-se que as pessoas percam direitos, que a
sua intimidade seja roubada, porque, se o for, estas perdem liberdade e justiça,
perdem humanidade. Para Adela Cortina, a confiabilidade do produto e serviços
será uma vantagem competitiva europeia (p.64);
- As máquinas carecem do sentido comum que é possível gerar-se pelas nossas vivências corporais. O corpo é essencial para dar significado ao que nos rodeia (p.39). A IA é especializada, muito adequada para tarefas concretas, mas não é uma inteligência geral, como a dos humanos.
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