'CANTO DOS MORTOS EM VÃO'
CANTO DOS MORTOS EM VÃO Sentai-vos e negociai À vossa vontade, velhas raposas grisalhas. Iremos amuralhar-vos num palácio esplêndido Com comida, vinho, boas camas e bom fogo. Para que possais negociar e chegar a bom termo sobre a vida dos nossos filhos e dos vossos. Que toda a sabedoria da criação Convirja para bendizer as vossas mentes E vos guie no labirinto. Mas lá fora ao frio, nós iremos esperar-vos, O exército dos mortos em vão, Nós os de Marne e de Montecassino, De Treblinka, de Dresden e de Hiroshima: E estarão connosco Os leprosos e os tracomatosos, Os desaparecidos de Buenos Aires, Os mortos do Cambodja e os moribundos da Etiópia, Os pactuadores de Praga, Os exangues de Calcutá, Os inocentes massacrados em Bolonha. Ai de vós se saís sem acordo: Sereis cingidos ao nosso abraço. Somos invencíveis porque somos os vencidos. Primo Levi , "Canto aos mortos em vão", in "A uma hora incerta", Edições do Saguão , 2024, p.175 (traduç...