"O FILHO DO CARPINTEIRO"
«Aqui o carrasco trava a carroça:
O melhor dos amigos deve partir.
À vossa saúde me despeço:
Vivei rapazes, não tarda morro.
«Oh, se tivesse ficado em casa
Preso ao labor de meu pai,
Se me tivesse agarrado à plaina
E ao enxó, não estaria perdido.
«Às tantas ainda havia construído
Forcas pra outros gajos,
Ao invés de estar aqui, pendurado,
Oh, se tivesse ficado mal, a sós.
Agora, vês como me erguem
Lá no alto, enquanto passam,
Apertam as mãos, rogam-me pragas;
E o meu estado vai de mal a pior.
«Eis-me aqui, pendurado, junto
A estes dois pobres condenados
Por roubo: a sorte é a mesma,
Só que um está enforcado por amor.
Vede camaradas, sem distinção,
Cuidai de seguir distinto caminho;
Vede o meu pescoço, salvai o vosso;
Deixai o mal em paz, se possível.
«Encontrai um fim decente,
Sede mais astutos que eu.
Fiquem bem, que eu passo mal;
«Vivei, rapazes, não tarda morro».
A.E. HOUSMAN, "O Filho do carpinteiro", tradução de Hugo Miguel Santos, Assírio e Alvim, 2025, pp.61-63.
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